Person of Interest é uma série que sempre surpreende por diversos motivos e por diversas razões, uma delas é como sua narrativa consegue trabalhar bem tanto os mocinhos como os bandidos. Dessa forma o episódio “∕” vem para contar mais um capítulo da história de Root, um dos vilões que mais cresceram durante as três temporadas de POI e que agora começa sua transição para o lado dos bonzinhos, mas sem perder as características que a fazem uma personagem memorável.
Este episódio assim como “RAM” trabalha de um lado específico da narrativa sem deixar de focar inteiramente no “team machine”, dessa forma temos ai a primeira visão de como funciona as operações terciárias da “machine”, que ao contrário do lado relevante e irrelevante é focado nos interesses da criação de Finch e seu plano para impedir que Decima seja bem sucedida em colocar a “machine Samaritan” em atividade. A trama funciona bastante como uma preparação para o que estar por vir, mas também se sustenta bem ao focar no desenvolvimento da personagem Root e nas diversas questões relacionadas ao POI da semana que faz com que o lado irrelevante cruze com lado que engloba as operações terciárias, já citadas anteriormente.
O interessante do roteiro bem amarrado assinado por David Slack é que ele consegue distribuir bem à narrativa e ainda fazer diversos paralelos interessantes ao longo do episódio. Outro fator de qualidade é o jeito com que a trama foca bastante na Root, tanto no seu lado mais humano, quanto no seu lado meio robótico e cibernético. Amy Acker desde que encontrou o tom certo da personagem na temporada passada vem trazendo ótimos momentos para a hacker em cenas excelentes, seja pela interação direta com a “machine”, passando pelas conversas intelectuais com Harold, diálogos proveitosos com Reese e com cenas hilárias flertando com Shaw ou fazendo Fusco se sentir constrangido em determinado momento em uma cena no departamento de polícia.
Todos esses momentos estão presentes no episódio e ainda servem como a verdadeira porta de entrada para Root no “team machine”. Dessa forma a humanização da personagem em certos momentos é necessária e bem vinda, a mente meio louca dela ainda está presente em algumas cenas, acredito que o lado vilão dela ainda está lá, mas o fato dela ser obcecada pela “machine”, está fazendo-a mudar sua maneira de enxergar as coisas a sua volta. Neste episódio por sinal trás o caso da semana ligado completamente ao passado da hacker, trazendo sentimentos que ela nunca tinha demonstrado antes, ao menos para o público.
Falando mais do POI, seu nome é Cyrus Well que no começo era apenas um zelador comum com um passado misterioso que acaba por ser o centro do episódio e peça valiosa nos no quebra-cabeça da Decima Tecnologies, virando a pessoa de interesse de todos no episódio. Interessante aqui é que a “machine” meio que esconde as informações de Root e deixa a cargo de Finch descobrir mais sobre Well, que por sinal é valioso mesmo por causa do acesso que tem em seu emprego atual, o que mais tarde revela ser algo de fundamental no plano da Decima para ativar o programa Samaritan.
O episódio trabalha muito essa questão de ameaça constante ao “team machine”, dessa forma os Vigilantes e Decima Tecnologies surgem como antagonistas a altura colocando Reese, Finch, Shaw e Fusco lidando com diversas situações perigosas, principalmente Shaw que fica encurralada em um armazém sem cobertura e com Collier e seus associados em seu encalço. A cena em questão é interessante para vermos como Sameen Shaw está integrada ao “team machine”, o vilão tentou persuadi-la a entrar para o grupo deles como uma forma de se vingar do governo que a traiu, mas a resposta veio à altura mostrando que a personagem tem uma maturidade incrível e muita sensatez de não cair na lábia de Collier.
Os Vigilantes entraram na trama do episódio de uma maneira inesperada, o que me faz pensar que este grupo merece um episódio focado inteiramente neles, para conhecermos mais de seus métodos e como funciona sua célula terrorista, um polimento narrativo para eles é o que está faltando para torná-los vilões marcantes para série, por enquanto isto não vem acontecendo, sem falar que incomoda o fato de saberem mais sobre “Samaritan” do que sobre a “machine” do Finch. Ao contrário da Decima que a cada dia se torna mais perigosa e neste episódio veio se mostrando um vilão com vários acessos para inibir o poder de acesso da “machine”.
Por falar em Decima, o líder Greer é um vilão realmente muito perigoso e sempre tem está um passo a frente de seus adversários, no momento em que ele conseguiu fazer a Root perder a conexão com a “machine” e seus associados capturaram Cyrus Well no processo, mostrou que apenas a hacker não seria capaz de detê-lo. “Root Path” é um episódio que mostra também que para vencer essa guerra contra a Decima a união de Root e do “Team Machine” é crucial, Harold acaba por entender isso quando toda a teia de acontecimentos revela que a Decima está atrás de um hardware criado pelo governo com alto poder de processamento e o dobro da velocidade de tudo que já foi criado.
Ao que parece os roteiristas estão criando vários episódios como uma peça de um grande quebra-cabeça, este que está sendo montado por Greer e seus empregados. Se em “Aletheia” os vilões foram bem sucedidos em pegar o cérebro (software) do Samaritan, neste episódio mesmo com “team machine” tentando impedi-los, o grupo ainda conseguiu o hardware invadindo o local de fachada da NSA. Ou seja, Samaritan já tem uma estrutura física superior a “machine”, definitivamente será uma guerra entre deuses, como a Root mesmo disse em uma conversa com Finch.
Sendo assim pode-se dizer que o episódio “∕” é um episódio excelente, redondo e bem escrito. Os diálogos são inspirados, uns com ótimo humor (principalmente vindos de Root e Fusco) e outros mais filosóficos fazendo alusão a uma grande guerra cibernética pela informação que está por vir entre a “machine” do Finch e o “Samaritan” da Decima. O episódio também serve para abrir um novo capítulo na história de Root e inseri-la como uma nova integrante do “team machine”, o roteiro faz com que a personagem interaja com todos e crie um tipo de elo, a relação mais interessante ali talvez tenha sido entre ela e Reese, os dois não interagem dessa forma desde o episódio “Firewall” (1×23) seguido por “The Contigency” e “Bad Code”, onde a hacker ainda agia como uma vilã com propósitos loucos, de antagonistas a aliados, será que vai dar certo? Veremos.
O caso da semana talvez não tenha sido completamente bom, mas foi importante para que a “machine” demonstrasse o significado de sua luta para Root, a importância da humanidade e as consequências de deixar vilões como Greer seguirem seus planos megalomaníacos, pois é fato que o “Samaritan” não terá a mesma “solidariedade humana” que a criação de Finch tem para com resto da humanidade. Outro ponto positivo vem da qualidade técnica do episódio, a fotografia estava belíssima principalmente nas cenas com neve (esse lado cinematográfico da série é perfeito), as cenas de ação também estavam ótimas principalmente aquelas com Reese, Shaw e Root, esta por sinal em uma cena “badass” perto do final. Como citei antes o roteiro de David Slack é impecável, ele traça vários questionamentos, desenvolve personagens, cria novas dinâmicas e dá espaço para todos brilharem, este talvez seja um de seus melhores trabalhos até agora empatado com o excelente “Razgovor”(2×05) que, aliás, foca em outro personagem importante, Shaw.
Enfim “∕ ” pode ser tratado como a colisão de dois mundos, as operações terciárias da “machine” é uma novidade interessante e mais um acréscimo proveitoso para mitologia de POI, conhecemos melhor como funciona esse lado interativo da “machine” usando Root como acesso, além de todas as pessoas a sua volta sempre que houvesse necessidade, destaque para cena inicial super “cool” envolvendo um preso local. Este episódio foi um episódio de aceitação também, Finch compreendeu que Root é uma peça necessária e finalmente deu braço a torce permitindo que ela entrasse para equipe. A cena final com Samaritan entrando quase em atividade só mostra que provavelmente no season finale teremos um conflito gigantesco, algo tão importante quanto a trama do vírus na “machine” da segunda temporada, então apertem o cinto, pois a viagem será turbulenta.
Observações de Interesse:
– “∕ “ – Esse símbolo significa “Slash” em inglês e normalmente indica escolha (pode ser gênero, nacionalidade, sexualidade), ao meu ver é uma forma de dividir a narrativa da série cobrindo duas tramas diferentes ligadas a mitologia de POI. No caso uma parte cobre as ações terciárias da “machine” liderada por Root, enquanto que o número irrelevante de Cyrus Well trás o “team machine” liderado por Finch e Reese para dentro deste contexto. Exemplo vem da abertura com Finch e Root dividindo a narração em off.
– Implante Coclear: O dispositivo eletrônico implantado no ouvido de Root no episódio é um implante coclear, que visa proporcionar aos seus usuários sensação auditiva próxima ao fisiológico. O dispositivo é constituído por um microfone, um microprocessador de fala e um transmissor. Este implante não serve para capita certos tipos de sons como a fala, mas serve escutar alguns sons diferentes, provavelmente o dispositivo consegue capitar a frequência que a “machine” fala com a Root, sem falar que o implante virou uma arma contra a Decima e seus dispositivos eletrônicos bloqueadores de sinais.
– Samaritan: A “machine” no final do episódio calculou os riscos de morte de alguns personagens de POI, incluindo a vítima do próximo episódio (Maria Martinez), veja a foto abaixo. Note que Finch tem o percentual mais alto junto com Reese, o primeiro tem 68% e segundo tem 56,9% de chances de morrer.
– Cyrus Well: Uma coisa interessante sobre o POI da semana que ele só apareceu como uma pessoa de interesse no episódio no momento que em que Root se aproxima dele, afinal com Well tem mais chance ser morto.
– “Everyone Is Relevant To Someone” (“Todo mundo é relevante para alguém”): A frase que Finch repete é a mesma frase que Ingram cita ao amigo no episódio “No Good Deed” (1×22) em um flashback de 2009.
– Root e Shaw: A Root manda tantas indiretas para Shaw que tenho certeza que vai rolar ao menos um beijo entre essas duas, talvez não, mas esses diálogos que elas travam são realmente hilários.
– Teste de Gravidez: A cena que a Root entrega o teste de gravidez a Harold foi outra cena engraçada, principalmente pelos comentários de Reese e Shaw. O interessante que na embalagem tinha uma mensagem dos Vigilantes encriptada.
– Interatividade: As operações terciárias da “Machine” mostrou um grande trabalho por parte da produção da série no quesito animação, várias informações interessantes são mostradas na tela durante cenas com os protagonistas, seja no começo do episódio (mostrando a quantidade de detentos dentro de um ônibus), seja na cena em que Shaw está encurralada (mostrando a quantidade de ameaças e o local) pelos vigilantes e seja nas cenas com a Root (em especial naquela em que fica evidente o modo de combate da hacker).
Momento Root
– Momento Reese: John com certeza teve seus momentos no episódio.
– Referências: Não sei vocês, mas a cena em que o telefone toca na rua próximo de John me lembrou-me bastante o episódio “Firewall” e o episódio “The Contingency”, acho que é um jeito dos roteiristas jogarem alguma pista sobre a relação entre a “machine” e o John num futuro próximo.
– Top 5 melhores frases:
– “You really want to see how it is when two gods enter into war?” (“Você quer realmente ver quando dois deuses entram em guerra?”) – Root para Finch
– “I’m one of the good guys now, Harold.”(“Eu sou um dos bonzinhos agora, Harold”) – Root
– “What was I supposed to say? “Sorry, boss, Agent King is actually a superpowered nutball. Just ask my buddy, the urban legend.” (“O que eu supostamente deveria dizer? Desculpa, chefe, a agente King na verdade é uma louca de pedra superpoderosa. Apenas pergunte meu parceiro, a lenda urbana (Reese)”) – Fusco para Root (Fala hilária)
– “You’re right, about all of it. I did work for the government and I do want revenge. But if that work taught me anything it’s that how you do matters as much as what you do, and by that metric you’re all just terrorists. And I kill terrorists.” (“Você está certo, sobretudo alias. Eu trabalhei para o governo e eu quero vingança. Mas se aquele trabalho me ensinou alguma coisa é que o como você faz importa tanto quanto o que você faz, e por essa métrica vocês são apenas terroristas. Eu mato terroristas.”) – Shaw para Collier
– “It was only after I taught the machine that people mattered that it could begin to be able to help them. I’d like to do the same thing for you, if you’d let me.” (“É que só quando eu fui capaz de ensinar a “Machine” que as pessoas são importantes é que ela começou a ser capaz de ajudá-los. Eu gostaria de fazer o mesmo por você, se você me deixar.”) – Finch para Root
– No próximo episódio as ameaças continuam a desafiar o “team machine”, veja empolgante promo abaixo.