Nada como alguns dias sem episódios inéditos para recuperarmos do caldeirão de emoções que o final da trilogia da H.R. nos proporcionou. E foi até bom isto ter acontecido afinal o episódio desta semana iniciou um novo ciclo em Person of Interest que vai cobrir toda a segunda metade da temporada. “Lethe” foi um episódio sólido, na medida certa e que trouxe revelações pontuais de uma forma que abre um leque de possibilidades para o futuro.
O interessante deste episódio é que tudo praticamente gira em torno da mitologia da “machine”, mas sem esquecer de toda a história ocorrida nos episódios anteriores. O roteiro assinado Erick Mountain é eficaz em fazer a narrativa principal funcionar sem a presença de Reese que desta vez ficou mais em um subplot, aliás, essa estrutura lembra um pouco o episódio “2πR” (2×11) que deu início ao arco da prisão do personagem. Naquela ocasião Finch, Carter e Fusco ficaram em primeiro plano carregando a história, o que é basicamente o que acontece aqui, só que Finch e Shaw ficam no plot principal e Reese e Fusco no secundário.
A grande jogada foi adicionar mais peças no universo de POI, colocando revelações inesperadas e trazendo inimigos de forma inusitada. O ponto positivo de “Lethe” vem exatamente por começar um novo arco ao invés de simplesmente voltar ao formato do caso da semana, o episódio cria toda uma teia de eventos que será explorado durante boa parte do resto da terceira temporada.
O episódio em si começa situando o expectador sobre os personagens principais logo após o fim da H.R., sendo assim descobriu-se que Reese se recuperou do ferimento e deixou a equipe. Estranho mesmo não foi ver o “man in the suit” saindo de cena e sim observar o comportamento de Finch em relação a isso, ignorando o chamado da “machine” no começo e dizendo a Shaw que a mesma não mandou nenhum número desde então. Mais estranho que isto foi Root perceber o que Harold estava fazendo e ainda lhe entregar o número da vítima mesmo estando aprisionada na gaiola de Faraday, ao que parece mesmo em cativeiro ela ainda consegue se comunicar com a criação de Finch, resta saber como.
Bom, sabendo ou não como Root conseguiu pegar o número, o fato é que POI da vez se chama Arthur Claypool, um homem que está internado em um hospital à beira da morte devido a um tumor no cérebro. Aqui a narrativa gira em torno deste personagem que acaba por se revelar um engenheiro com uma mente brilhante ex-empregado da NSA que vira alvo de duas poderosas organizações. As ramificações ligadas ao caso da semana tratam de enriquecer bastante o enredo adicionando conspirações, mistérios e ação.
São tantas peças se encaixando e revelações em jogo que fica difícil lembrar que Reese não está mais ali. Finch e Shaw tomam a frente da investigação e aos poucos vamos descobrindo que nada é o que parece ser, desde a entrada do Serviço Secreto (voltando à série depois aparecer no episódio 2×09), passando pela revelação já citada sobre a verdadeira pessoa de Claypool até culminar na ação frustrada dos Vigilantes liderados por Peter Collier. O melhor de tudo isso é que o episódio nem tinha chegado à metade de seus mistérios. O roteiro funciona de uma forma tão dinâmica e instigante que é difícil tirar os olhos da tela, sem falar que a direção de Richard J. Lewis consegue dar um ritmo correto à narrativa sem que tudo pareça cadenciado.
O outro ponto positivo é modo que a história explora o personagem de Harold Finch, a narrativa consegue fazer com que o público fique ainda mais intimo do personagem adicionando flashbacks sobre sua infância e durante sua adolescência. Foi interessante ver a influência que a doença do pai dele teve em sua trajetória, sem falar que o roteiro é esperto o bastante para fazer um contraponto com personagem de Arthur Claypool no presente. As cenas com Finch jovem mostram um garoto inteligente, idealista, um pouco contido e que se preocupa muito com pai sem esquecer-se de seus próprios sonhos, os atores mirins que representaram cada qual uma época do personagem atuaram muito bem, diga-se de passagem, assim como o ator que interpretou o pai de Harold no passado.
Um aspecto importante aqui é a ligação do POI com Harold, saber mais do passado do amigo de Reese nunca é demais, devo dizer que fiquei curioso para descobrir mais da turma dele durante seu tempo no MIT, inclusive a cena em que ele e Claypool cantam em determinado momento do episódio é nada mais do que antológico, com direito a Shaw testemunhando tudo. Arthur Claypool é um personagem intrigante, mesmo a beira da morte ainda consegue trazer tona uma informação nada mais do que bombástica.
A revelação de uma segunda inteligência artificial com as mesmas características da criação de Finch é um “game changing” (“virada de jogo”) gigantesco, é como ter duas Skynet num mesmo mundo dividindo as mesmas ideologias e agindo de forma quase que parecidas por caminhos distintos. “The Samaritan” criado por Arthur é a válvula de escape para o governo que depois dos eventos de “God Mode” (2×22) perdeu um poder de acesso enorme que a “machine” do Finch oferecia. E quando se está recuado e perdendo terreno o jeito é recorrer ao plano B, que neste caso foi a criação de Claypool.
“Lethe” não trás apenas essa revelação da segunda “machine”, mas também aproveita para revelar um dos vilões ainda escondidos nas sombras. No parágrafo anterior eu citei que o governo se sentia de certa forma vulnerável, quando o “Special Counsel” caiu no final da temporada passada uma misteriosa personagem assumiu, uma pessoa que o antagonista Hersh chamava apenas de “Ma’am”, desta forma muito se especulou quando ela iria aparecer então nada mais justo que fosse de surpresa, não que tenha sido completamente uma surpresa.
A escolha de Camryn Manheim (Criminal Minds, Harry’s Law e Ghost Whisperer) foi um acerto da produção, a mulher consegue enganar bem assumindo a identidade da esposa morta de Arthur se aproveitando de seu estado mental e enganando Finch e Shaw. Durante um bom tempo você até consegue acreditar no jeito de esposa sofrida dela, mas no momento em que ela é exposta e todo o teatro cai, temos ai uma descoberta de uma vilã fria e calculista, que lembra um pouco à antiga Root, que no final da primeira temporada usou a mesma tática para se aproximar de Finch, mas neste caso a “Control” (codinome dado a ela e a organização do governo que cuida dos assuntos relacionados a “machine” e os relevantes) tem objetivos maiores que não só envolvem tomar de uma forma ou outra a “machine” de Harold, mas os drives de ativação do “Samaritan” também.
Todas essas ameaças e perigos expostos em “Lethe” são cruciais para nos mostrar o quão vulnerável o “team machine” está. Durante todo o tempo do episódio Finch e Shaw não tinham um plano B para diversas situações que se encontravam e o fato de ambos terem sido surpreendidos com revelação da “Control” infiltrada entre eles demonstra que sem a presença de Reese ou Fusco, o trabalho que o grupo faz fica totalmente comprometido, pois acredito que se a equipe estivesse reunida aquela cena final nunca teria ocorrido daquela forma. Esta situação nos leva de volta a avaliar a situação de Reese.
O personagem ainda está sofrendo com a morte inesperada de Carter, mas a questão é que todos os amigos dele também estão. Então é quase certo pensar que John está sendo um pouco egoísta, isto fica claro no diálogo entre ele e Fusco no bar de estrada no estado do Colorado. Mais uma vez vale ressaltar a ótima atuação de Kevin Chapman, ele funciona ali como uma voz da razão e o único capaz de trazer o velho Reese de volta ativa. A briga entre os dois foi ridiculamente divertida, não serviu para muita coisa no contexto, mas ao menos trouxe humor para situação ao som de uma trilha sonora boa.
Enfim este episódio encerra a primeira metade de Person of Interest em alta, depois de um começo mais contido, passando por episódios que apenas davam a pista do que estava por vir, até chegar à extraordinária trilogia sobre o fim da H.R. e encerrando com este que trás uma vastidão de pergunta e bastantes teorias para pensarmos até janeiro quando POI retorna. “Lethe” foi um episódio sólido, com ritmo acelerado focando no mistério que cercava a vítima da vez, além de aproveitar para mostrar mais do passado de Harold Finch, as consequências da guerra pós-H.R. deixou sequelas e a partida de Reese só deixou o “team machine” ainda mais em perigo.
A ideia colocar a revelação da misteriosa “Control” como “cliffhanger” foi uma tacada de mestre, deixou aquele gostinho de quero mais que estamos acostumados com os episódios decisivos de POI. Todos querem que Reese ouça Fusco e volte o mais rápido possível para ajudar Finch e Shaw, ainda que não saibamos se o “man in the suit” vai retornar já na segunda parte deste arco, é por ressaltar que temos Root como um coringa neste jogo e a julgar que a personagem ainda se comunica com a “machine” pode ser que ela entre em campo como último recurso da criação de Harold, caso as coisa fujam ainda mais do controle.
De tudo que foi tratado neste episódio “The Samaritan” foi de longe a revelação mais instigante. A ideia de ter uma inteligência artificial livre espionando tudo e a todos era algo perigoso, duas então pode ser algo ainda pior, ainda não sabemos se essa segunda máquina é tão inteligente quanto a “machine” que conhecemos, não sabemos se os princípios de programação dela criada por Arthur têm as mesmas prudências e conceitos de certo e errado usadas por Finch na sua criação. E o mais importante, qual será o paradeiro do samaritano, sabemos que “Control” está atrás dos drives, mas ainda não se sabe se os mesmos possuem a parte física dele, sem falar que não seria muito ousado pensar que: “E se The Samaritan também foi libertado anos atrás, assim como aconteceu com a máquina do Finch?”.
São múltiplas perguntas que serão respondidas parcialmente apenas no episódio do começo do ano que vem, é bom salientar que ainda temos Os Vigilantes de Peter Collier correndo por fora nesta disputa. Ainda que a organização não tenha seus motivos revelados de forma clara em relação à criação de Arthur, será interessante descobrir os reais objetivos deles dentro deste arco. Quem pensou que depois da derrubada da H.R. as coisas iriam acalmar, se enganou, pois, ao que parece elas prometem ficar mais intensas daqui para frente, resta saber se o “team machine” conseguirá se reerguer para enfrentar essa erupção de inimigos que não param de surgir.
Observações de Interesse:
– Lethe: O título do episódio é uma palavra advinda da mitologia grega que significa rio do esquecimento. Este, segundo os mitos gregos é um dos cinco rios que fluem dentro submundo de Hades, quem bebe de sua água perde a memória instantaneamente. Essa palavra também é o nome da deusa do esquecimento.
– Segunda parte: O próximo episódio que fecha este arco se chama “Aletheia” e tem também assim como “Lethe” uma origem grega.
– Reese: A narrativa do John não foi tão interessante quanto se esperava, mas foi legal ver que ele recorreu ao bar aonde o pai (foto abaixo) dele sempre ia antes de embarcar para o Vietnã, sem falar que o motivo da morte do papa Reese também justifica um pouco suas atitudes de deixar a equipe.
Vejo semelhanças e vocês?
– Pistas Escondidas: Uma das características de POI são os detalhes que às vezes deixamos escapar e neste episódio não foi diferente. A chefe de Hersh já havia sido revelada antes mesmo do dito cujo aparecer em cena revelando a identidade da mesma, veja a foto abaixo bem no canto da tela saindo do elevador, ela está com quadrado vermelho que significa ameaça eminente.
– “The Samaritan” e outros projetos: Quando a animação de status da “machine” mostra a localização desconhecida do projeto “the samaritan” pode-se perceber vários blocos envolta com o nome de outros projetos secretos que o governo manteve como: Prism, Genoa, Genoa II e etc. A parte mais legal disso tudo é que se você pesquisar no Google, você vai perceber que todos esses nomes são reais advindo de projetos reais que a NSA criou ao longo dos anos desde a guerra fria.
– Trilha Sonora: A música que é ouvida durante a briga de Reese e Fusco se chama “The Sky Is Crying” por Elmore James.
– Melhores frases do episódio Top 4:
– “If they don’t want you to get inside, they ought to build it better” (“E se eles não querem que você entre dentro, então eles deviam construí-lo melhor”) – Finch criança
– “Not everything that’s broken is meant to be fixed.” (“Nem tudo que está quebrado foi feito para ser consertado”) – Pai do Finch
– “It just proves that no matter what we do or don’t do in this world, bad things are going to happen. It’s pointless. Irrelevant.” (“Isto só prova que não importa o que façamos ou não neste mundo, coisas ruins sempre irão acontecer. É inútil. Irrelevante”) – Reese
– “One of you is going to tell me what it is I want to know. And whoever does, will be the one who gets to leave here… alive.” (“Um de vocês vão me contar tudo que eu quero saber. E qualquer um que o fizer, vai ser aquele que sairá daqui…..vivo”) – Control
– Person of Interest volta dia 7 de janeiro de 2014. Feliz Natal, feliz ano