“O divisor de águas”, esta frase define muito bem o que foi este episódio de POI. Primeiramente devo confessar que demorei um pouco para começar escrever esta review, pessoalmente eu estava sem palavras para descrever a cena final chocante, mesmo sabendo que já tinha cogitado essa possibilidade semana passada, ao ver que meus pensamentos estavam realmente certos foi ainda mais devastador.
Segundo devo dizer que já assisti bastantes séries e poucas, eu digo poucas, me fizeram sentir o que senti ao assistir este episódio 3×09 de Person of Interest. Posso dizer que dentre as centenas de episódios das diversas séries que assisti este ano, “The Crossing” está no meu top três juntamente com “Rains Of Castamere” de Game of Thrones e “Ozymandias” de Breaking Bad como os três episódios mais chocantes e bem escritos de 2013, sempre sombra de dúvidas, não só pela ousadia, mas pela maneira com que ambas trataram seus personagens.
E assim sem mais delongas chegamos à segunda parte do épico “The Endgame” e posso começar já parabenizando o roteiro cuidadoso e brilhante de Denise Thé, além da sagacidade e habilidade ímpar do diretor Frederick E. O. Toye que merece o destaque pelo desempenho em praticamente em todas as cenas e em especial na sequência final que fecha o episódio. E encerro meus elogios aos roteiristas da série em geral e em especial Jonathan Nolan e Greg Plageman, que tomaram a decisão mais ousada e desafiadora de suas vidas até agora. Muitos amaram, muitos odiaram, muitos estão surpresos, mas todos estão maravilhados com caldeirão de emoções que estes indivíduos nos proporcionaram.
“The Crossing” é o episódio mais pessoal que Person of Interest já fez, desta vez tudo que aconteceu vai afetar os remanescentes do “team machine” a longo a prazo, vai mudar o modo de todos eles pensarem, porque não há nada mais assustador do que perder alguém que você se importa, isso deixa marca, deixa um vazio e mesmo seguindo em frente os ecos daquela cicatriz nunca irão desaparecer por completo. Este grupo já enfrentou poderosos inimigos, mas ainda assim conseguiram sair bem sucedidos nas diversas empreitadas ao longo das duas primeiras temporadas, mais nada se compara ao inimigo que causou a morte da detetive CARTER deixando uma marca que nunca será esquecida, não pelo modo covarde de como tudo aconteceu , mas pelo choque e a impotência que ela causou aos seus parceiros e amigos Reese e Finch naquele instante.
Antes de falar desta cena derradeira é importante ressaltar as diversas cenas do episódio em si antes de chegar este triste momento de dor e despedida de uma personagem tão querida. Tudo começa em seguida aos eventos do episódio anterior “Endgame”, com Simmons colocando a foto do Reese no sistema da polícia e no radar de todos os criminosos da cidade com uma simples missão, atirar para matar, dessa forma o número expelido pela “machine” pela primeira vez na série foi o de John. Longe dali ele e Carter tentavam pegar a linha do metrô para levar Quinn até a sede do FBI.
O interessante deste episódio é que ele constrói nos momentos certo a tensão para depois aliviá-lá. O roteiro é tão inteligente que injeta humor, drama e ação sem parecer piegas, sendo assim têm-se diversos momentos leves com Shaw e Fusco (relacionamento que desenvolveu de forma magistral aqui), para logo depois o clima ficar tenso de novo quando Finch perde a comunicação com Reese e Carter no metrô. Mais do que uma simples narrativa o nono episódio é cheio de ótimos diálogos e possui toda uma complexidade dramática de dar gosto.
Vamos analisar por parte, primeiro o relacionamento de Finch e Root. A personagem da hacker me irritou profundamente neste episódio, simplesmente porque ela sabe mexer com psicológico do Finch e pior que desta vez, mesmo agindo como a dona da verdade, até certo ponto ela tinha razão. Harold estava impossibilitado de entrar em contato com Reese e as coisas complicadas do jeito que estavam só iriam piorar, quando ele segue a sugestão de Shaw para consultar Root por causa da conexão dela com a “machine”, a conversa só fez criar um dilema ainda maior na cabeça do bilionário.
Esta dádiva especial da Root gera sim muitos questionamentos, porque antes de tudo ela é uma vilã e por mais que a decisão de deixá-lá livre ou não tenha pesado, acredito que mesmo soando um pouco egoísta, Harold tomou a decisão certa, mas após a última cena do episódio não tenho total certeza disto. O roteiro jogou essa intenção na narrativa, mas consigo enxergar que este assunto virá à tona em breve e não sei se Finch irá manter-se firme em sua posição em relação a hacker.
O segundo relacionamento importante de “The Crossing” foi o de Fusco e Shaw. No começo da temporada todos estavam sentindo falta de cenas com o Lionel, mas nos últimos episódios o personagem veio crescendo de maneira gradativa e neste episódio seu destino estava na berlinda ao ser capturado quando tentava ajudar Reese e Carter escaparem, mas foi no pior momento em que apareceu um anjo chamado Shaw. Se alguém tinha motivo para duvidar da personagem, depois do desempenho estupendo de tomar a decisão de salvar o filho de Fusco, ela acabou de ganhar o coração dos fãs de vez.
Os roteiristas sabem que após os acontecimentos desse episódio o “team machine” vai precisar se unir para conseguir seguir em frente e nada mais justo do criar certos vínculos entre dois personagens que praticamente não tiveram cenas importantes na série, foi genial o quanto o equilíbrio de humor e drama fez desta narrativa uma das mais bem estruturadas e autenticas da série até agora. Espere muitos momentos dos dois juntos no decorrer da série, essa sim foi o começo de uma grande amizade.
E por fim chegamos ao relacionamento mais bombástico de “The Crossing”, Reese e Carter. A amizade dos dois foi algo que eu sempre gostei na série, muita verdadeira e muito família por assim dizer, então é fato que apreciei cada momento entre os dois neste episódio. Vale destacar o cuidado da escrita de Denise Thé em desenvolver de forma tão singela os diversos aspectos desta amizade, durante todo o trajeto que fizeram as cenas mais importantes foram quando ambos ficaram encurralados no necrotério.
Cercados por policiais corruptos da H.R., esperando o auxílio chegar e com a sombra da morte pairando sobre os dois, foi o momento de abrir o coração. Devo dizer que Jim Caviezel foi fenomenal neste episódio, o carinho com que Reese trata a detetive naquelas cenas são de uma intensidade incrível, o jeito que o personagem se abre no só nessa cena, mas praticamente em todas as outras cenas da metade para o final só me faz afirmar que esta é sem dúvidas a melhor performance do “man in the suit” desde o excelente episódio “Many Happy Returns” (1×21) e do também ótimo “Dead Reckoning” (2×13).
O que nos leva a intensa e poderosa cena do beijo, que tirando a sequência final foi o momento que mais surpreendeu na trama. Para alguns pode soar apelação e pode destoar um pouco do que relacionamento de Reese e Carter sempre significou, mas importante entender que naquelas circunstâncias e com as emoções a flor da pele o gesto de John foi mais do que uma demonstração de carinho ou amor, foi um gesto de cumplicidade, companheirismo, uma postura que demonstra toda a complexidade da relação de ambos de uma forma mais do que genuína, ele estava lá entregue para protegê-la a qualquer custo.
Outra demonstração deste sentimento foi quando ele entregou a bala que mudou sua vida para Carter, foi um simbolismo o personagem entregando seu coração antes de sair para caçar os policiais da H.R., o que nos leva a crer se os dois não tivessem se cruzado no piloto da série, talvez Reese não tivesse forças para aceitar a proposta de Finch naquele dia. Desse modo voltamos novamente à cena do beijo, que além de trazer os sentimentos citados, pode-se dizer também que foi uma premonição do que estava por vir.
A essa altura Shaw já teria salvado o filho de Lionel e o policial por sua vez teria protagonizado uma das cenas mais tensas e selvagens de seu personagem na série (palmas para Kevin Chapman), ao matar o oficial Petersen de forma crua e brutal, para finalmente escapar de seu cativeiro e da morte certa. Exatamente após essa cena ter acontecido, o destino de Carter estava selado, a essa altura quem tinha dúvidas não tinha mais e mesmo aqueles que acreditaram que tudo acabaria bem (incluindo este que lhes escreve) no final, foram literalmente bombardeados com a cena final.
O clímax do episódio “The Crossing” foi brilhante, tão bem filmado e friamente calculado que não tem como não se emocionar. Os personagens de POI são tão bem construídos que eles praticamente se tornaram membros da família de quem os assistem, aquele irmão, aquele pai, aquele amigo que sempre vai estar por ali toda semana proporcionando alegrias e emoções sejam elas boas ou ruins, mas não mais, ao menos para o personagem da detetive Jocelyn Carter. Simmons aparecendo do naquela encruzilhada (“The Crossing” em inglês) representou a figura fantasmagórica de nossos piores pesadelos e assim trazendo o verdadeiro “Endgame” para Carter e quase para Reese no processo.
A carga dramática e a expressão de Reese (“dor, desespero e ódio”), seguida pela expressão de horror de Finch (“choque, surpresa e impotência”) é o que todo fã de Person of Interest sentiu naquele momento. O simbolismo do sinal indo do verde para vermelho quando ela morre é trágico e melancólico, sendo agravado pela ausência de som e apenas o toque vibrante do orelhão com a “machine” clamando por seu criador sendo que naquele momento era tarde demais. Uma heroína foi ferida em combate e caiu em meio à guerra, mas não sem cumprir sua missão de derrubar a organização criminosa mais poderosa e corrupta de Nova York, além de uma das mentes criminosas mais poderosas que existiram na cidade e cravar uma meta quase perfeita de 98% de inimigos presos durante o combate. O final pode ser trágico, mas a jornada foi cumprida heroicamente, Carter deixará saudade sim não tenha dúvidas, mas ficará marcado na história das séries de TV como um dos personagens mais extraordinários que já se teve notícia. É o fim de uma era e o começo de outra.
E se você está chocado como eu, saiba que Mr. Reese também está e saiba que tudo que vai, volta e Simmons colherá exatamente o que plantou no último episódio desse épico arco. Os dois já se enfrentaram no episódio “Razgovor” e Reese venceu, no segundo encontro Simmons empatou de novo oferecendo uma derrota amarga e difícil de esquecer e no episódio que finaliza a trilogia promete ser de arrepiar então prepare seu coração porque se ele está devastado agora, ele pode ganhar um alívio ao menos parcial com a queda definitiva dos chefões da H.R.
#OGiganteAcordou #PaybackTime
Observações de Interesse:
– Elias: O vilão não apareceu, mas pelo menos ajudou a não complicar a vida de Carter e Reese ao impedir que seus capangas se envolvessem na guerra entre “team machine” e H.R. . Eu adoraria ver a reação de Elias a morte de Carter.
– Tributo a Carter: R.I.P.
Joss Carter – 1972 a 2013
– Antes da cena derradeira, achei excelente ela ter descoberto sobre a “machine” do Finch e contado para ele, melhor ainda foi o quadrado dela mudando para amarelo.
– Outra o presente dos roteiristas foi ela ter conseguido o trabalho dela de detetive de volta (para falar a verdade ela nunca deixou de ser).
– Esse último presente foi de Reese, dizendo: “Se meu número apareceu que bom que eu ao menos estava com você” (ironia cruel já que sabemos que acontece depois, mas não deixa de ser um momento carinhoso)
– Quinn: O líder da H.R. irritou bastante no episódio e na minha opinião a Carter poderia ter deixado ele guardado dentro do “caixão metálico” no necrotério.
– Simmons: Quinn pode até ser o líder, mas quem causou a fúria em massa dos fãs foi o braço direito dele, o cara ajudou a torturar Fusco e ainda atirou no Reese e na Carter, esse tá pedindo para morrer mesmo.
– Finch: Não sei vocês, mas achei o Harold bem equivocado ao achar que sua própria criação iria permitir que Root altera-se o código fonte dela só para obter essa ligação especial entre as duas. Mal sabe ele que a “machine” já anda e muito bem com as próprias pernas e sua evolução está mais avançada do que ele pensa.
– Piloto: Os roteiristas estavam tão afiados que tivemos ótimas referências ao episódio piloto da série, primeiro com John fazendo referência ao seu amor perdido, Jéssica, segundo a cena em que ele, Carter e Quinn estão no metrô e bandidos aparecem, fazendo alusão a cena em que ele barbudo também bate em outros malandros, e por último a cena da delegacia perto do fim com Carter e Reese citando a mesma frase que ambos disseram quando se conheceram pela primeira vez (adoro essa cumplicidade dos dois).
– Orelhão Maldito: O som daquele orelhão ficou tocando no meu ouvido o dia inteiro depois deste episódio tamanho meu desespero e às vezes ainda ouço ecos e lembro-me desta cena.
– O beijo: Segundo Jonah Nolan e Greg Plageman a cena do beijo foi totalmente improvisada pelos atores Jim Caviezel e Taraji P. Henson, a cena não estava no roteiro, mas encaixou perfeitamente na ocasião tamanho entrega dos atores, o que deixa o momento ainda mais especial.
– Melhores frases do episódio top 4:
– “You know the dog is the only one that likes you, right?” – (“Você sabe que o cachorro é o único que gosta de você, certo?”) – Fusco para Shaw
– “See you on the other side?” – (“Vejo você do outro lado”) – Reese para Carter (senti nesta frase uma forte referência à série Lost)
– “Your time’s up. Told you I’d end you” – (“Seu tempo acabou. Eu disse que iria finalizar você”) – Simmons para Reese
– “Don’t let this……..” “……change you” – (“Não deixe isto….” “….mudar você”) – Carter para Reese (infelizmente, ela não conseguiu terminar a frase)