Review | A 6ª e última temporada de Glee

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Glee sempre foi um seriado diferente disso ninguém pode duvidar. Em meados de 2009 quando a série estreou o fenômeno gerado foi imenso tanto para o lado musical, tanto pela repercussão das temáticas que a série levantou e levanta até hoje. Seis temporadas depois a jornada desta comédia misturada com drama chega ao fim sofrendo com desgastes e por diversos momentos falta de criatividade, mas não antes de nos lembrar em seus dois últimos episódios às qualidades que fez dela um dos melhores seriados a estrear na TV focada no público adolescente.

Após quatro anos praticamente impecáveis, a série decaiu bastante em sua quinta temporada demonstrando não só uma fadiga gritante, mas a perda da magia que fez do seriado um sucesso, a qualidade decaiu bastante e tudo foi ainda mais agravado devido à morte inesperada de uma das estrelas da série, Cory Monteith. Nem as performances musicais eram mais suficientes para segurar a audiência que simplesmente sumiu, tanto que a série amargou seus piores índices de público em diversos episódios desta fraca temporada, por esse motivo a Fox norte americana aproveitando-se que a série estava renovada, decretou que o sexto ano seria o último.

Desta forma a série teria a chance de encerrar sua história de forma digna com apenas 13 episódios, ao contrário dos usuais 22 episódios por temporada. Os produtores, portanto tinham a missão ingrata de tirar o gosto amargo deixado pela temporada anterior e ainda resgatar um pouco da magia das quatro primeiras temporadas para encerrar a série com um pouco de dignidade. Sendo assim devo dizer que após assistir esta última temporada de Glee, que chegou ao fim lá nos EUA no dia 20 de março de 2015 e deve estrear seu último ano aqui no Brasil pelo canal Fox somente no mês que vem, encerrou-se bem, mesmo apresentando certa instabilidade conseguiu trazer um pouco da nostalgia de volta e ainda encerrar muito bem a história de Rachel, Kurt, Mercedes, Artie, Tina e companhia.

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Começando a nossa análise pelo início, devo dizer que a série voltou do hiatus muito bem, apresentando uma “season premiere” bem consistente com dois episódios duplos bastante eficazes. Em “Loser Like Me”(6×01), somos reintroduzidos à série alguns meses após os eventos da “season finale” passada, aqui os roteiristas conseguem trazer aquela sensação de novo fazendo o espectador ficar curioso sobre o que aconteceu com Rachel, Blaine e Kurt. A mudança fez bem a série trazendo uma dinâmica um pouco diferente, como a ideia de Rachel de reconstruir o “Glee Club” novamente na escola McKinley como forma de dar um rumo a sua vida (depois de desistir de uma carreira promissora na Broadway e amargar o fracasso de sua série de TV) e ainda proporcionar os jovens da escola uma oportunidade de experimentar as alegrias que ela sentiu na sua época no New Directions. Neste contexto ainda somos reapresentados a Blaine como treinador dos Warblers e Mr. Schue como treinador dos perfeccionistas Vocal Adrenaline.

Seguindo a jornada para reconstruir o Glee Club, a série apresenta também a terceira geração do New Directions, estes apresentados a partir do segundo episódio como objetivo compor a nova formação do grupo. Sendo assim temos: Roderick (o talentoso Noah Guthrie), Jane Hayward (Samantha Marie Ware), os irmãos Mason (Billy Lewis Jr.) e Madison (Laura Dreyfuss) McCarthy, e mais tarde Spencer Porter (Marshall Williams) e o retorno de Kitty Wilde (Becca Tobin a única remanescente do grupo anterior), com a missão de salvarem o Glee Club da extinção.

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Se o primeiro episódio teve a missão de restabelecer os personagens originais e o foco principal da temporada, o segundo episódio “Homecoming” teve como missão fazer com os membros originais do New Directions voltassem à cena para relembrar e mostrar aos novatos o verdadeiro papel daquele grupo em McKinley. O interessante aqui é que Glee, além da temática musical, sempre foi uma série que soube tratar temas delicados de forma inteligente e emocional, trazendo o melhor de seus personagens e a capacidade do seriado de aceitar e abraçar as diversidades, como fica evidente nos episódios “Jagged Little Tapestry” (6×03) que trata sobre relacionamentos amorosos de pessoas com Síndrome de Down focado na sempre carismática Becky e no emblemático “Transitioning” (6×04) que foca no preconceito contra os transgênicos ao mostrar a transformação da treinadora Shane Beiste em Sheldon Beiste e as dificuldades dessas pessoas em conviver na sociedade novamente depois desta transformação.

Desta forma a série sempre conseguiu levantar importantes bandeiras sobre estas questões e muitas outras envolvendo gays, negros, tratando assuntos como obesidade, anorexia e outros temas que geram em sua maioria preconceito e ódio dentro da sociedade que não tem conhecimento o bastante sobre assunto, mérito do criador Ryan Murphy e seus roteiristas que conseguiram mandar diversos recados, além ressaltar que a aceitação é o primeiro passo para se ter uma sociedade melhor. O maior problema da série, no entanto nem é o fato de tocar na ferida que incomoda a maior parte das comunidades mais conservadoras, muito menos as diversas canções que ajudaram a embalar a série esses anos todos, mas o fato de diversas vezes os roteiristas exagerarem em tramas irrelevantes e que não contribuem muito com a trama principal da temporada ou ainda pior não conseguir desenvolver histórias para alguns personagens da série, como foi o caso de Marley, Ryder, Jake, dentre outros que passaram pela série.

Glee na maioria das vezes sempre soube dosar a comédia e o drama muito bem, sendo que as partes de humor eram sempre loucas, mas palpáveis por assim dizer, mas nesta temporada a maior parte destas cenas soava um tanto surreal e completamente fora de foco, chegando tornar uma das personagens mais legais da série o maior problema da sexta temporada em si. Sues Sylvester sempre foi uma espécie de vilã para o seriado, mas seus planos neste último ano beiraram ao ridículo e por causa disto os episódios focados nela contribuíram bastante para quebra do ritmo que começou bem nos episódios iniciais. Os episódios “The Hurt Locker Part 1 e 2” (6×04 e 6×05) foram extremamente bobos resultando em plots absurdos e resoluções toscas, se salvando apenas as canções na segunda parte desta trama.

O mesmo se pode dizer do obsoleto “The Rise and Fall of Sue Sylvester” (6×10), que ajudou a desconstruir ainda mais Sue como uma personagem interessante. Particularmente eu gosto quando Glee foca em seu lado mais musical e dramático são nestes momentos que nos divertimos mais e nos lembramos do quanto à série pode ser diversificada. Outros episódios como “The Wedding” (6×08) que trás o casamento duplo de Brittany e Santana, e Blaine e Kurt, proporcionam momentos inesquecíveis de pura descontração e nostalgia, revisitando relacionamentos construídos durantes as temporadas anteriores, sem falar que mostra um lado família da série com presença de vários pais dos personagens originais. Ou “Child Star” (6×09) que trás aquele humor louco, mas na medida lembrando que a série quando quer sabe fazer rir quando não exagera nas loucuras de seu próprio contexto narrativo.

Analisando todos esses episódios podemos dizer que a última temporada sofreu bastante para manter a estabilidade, oscilando bastante entre episódios bons, mais ou menos e ruins, atrapalhando a série ter foco suficiente para encerrar seu último ano. Eu mesmo cheguei a cogitar que não conseguiriam fazer um final à altura do legado do que Glee construiu estes anos todos, principalmente porque alguns defeitos da temporada passada permaneceram presentes aqui, como a negligência em deixar os personagens novos a deriva durante um longo tempo e focando em tramas que não levavam a lugar nenhum.

Mesmo com esta desconfiança no ar, devo dizer que eles conseguiram me surpreender e surpreender o público com desfecho tocante e simplesmente emocionante. Tudo começou a ser construído de forma correta no episódio “We Built This Glee Club” (6×11), quando finalmente a narrativa volta o foco no “Glee Club” e em seus novos integrantes. Devo dizer que juntar o “New Directions” com “The Warblers” foi uma jogada esperta do roteiro e deu força para o grupo conseguir superar seus mais fortes antagonistas nas “Sectionals” e assim conseguir passar para a próxima etapa da competição.

Como eu disse anteriormente, uma das qualidades mais marcantes de Glee são as excelentes performances de seus personagens durante os episódios, aqui neste em particular temos apresentações pontuais do New Directions∕Warblers com a voz marcante de Roderick, na performance de “Take Me To Church”, ou na emocionante e por alguns momentos hilária interpretação de “Chandelier” mostrando o quão talentoso pode ser o grupo cantando a uma só voz. Esta duas canções são apenas uma amostra do que estava por vir nos dois últimos episódios da temporada.

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No penúltimo episódio da temporada “2009” (6×12) funciona como um tributo e resgate nostálgico da primeira temporada da série. O interessante desta trama é que praticamente temos um epílogo que prepara o espectador para despedida do seriado de forma resgatar situações chaves que definiram a personalidade dos integrantes originais do “New Directions”.

Tudo é muito bem construído e serve como uma versão estendida do episódio piloto, enriquecendo ainda mais a visão que temos de personagens como Rachel, Artie, Tina, Mercedes, Kurt, Will Schuester e Sue Sylvester. Foi muito bom assistir o nascimento da rivalidade Rachel e Mercedes, tocando em pontos importantes das duas personagens, a primeira e seu desejo de se tornar um icônico da Broadway e a outra de mostrar que uma diva negra tem espaço para brilhar, duas características cruciais para que ambas se tornassem um complemento uma para outra, além de criar um forte elo de amizade construída ao longos desses seis anos.

Temos aqui uma boa recapitulação do relacionamento espinhoso não só entre as duas, mas com Kurt incluso. Aliás, foi bacana revisitarmos um pouco da relação entre Kurt e seu pai, talvez uma das relações familiares mais fortes de toda a série. Tivemos ainda a reafirmação da amizade de Tina e Artie, além da apresentação de ambos na primeira audição que fizeram para entrar para o “Glee Club”, aliás, confesso que acho a voz dois as mais sólidas e versáteis da série, principalmente a do ator Kevin Mchale, que pessoalmente considero o melhor cantor do “New Directions”.

Outra qualidade de “2009” foi mostrar a origem da rivalidade de Will e Sue, antes melhores amigos e depois grandes rivais. O final deste episódio não foi apenas marcado pela nostalgia, mas a celebração de uma ideia que deu tão certo e devo dizer que foi emocionante assistir o grupo original (com Finn Hudson junto é claro) cantando pela primeira (e última vez) a inesquecível “Don’t Stop Believin”, nos fazendo descascar cebolas de emoções e nos preparando para o último e derradeiro capítulo da série.

A ideia de fazerem um “series finale” dupla foi cirúrgica, pois uma vez que “2009” resgatou a nostalgia de Glee, em “Dreams Come True” (6×13) foi à celebração e a conclusão de uma jornada bem sucedida. Porque mesmo com algumas falhas pelo caminho, uma coisa não se pode negar é que Glee sempre manteve certa qualidade na maioria dos seus episódios, trazendo diversas emoções para seu público e acima de tudo abrindo o olhar das pessoas para um mundo de mais tolerância e igualdade. Desta forma o episódio final chega de forma pontual, não só encerrando a jornada Rachel e companhia, mas deixando um legado para TV que não será esquecido tão cedo.

Devo dizer primeiramente que fiquei bastante feliz com a forma que trataram o futuro de cada personagem, começando pela nova geração do “New Directions” ganhando o campeonato nacional (faltou mostrarem as apresentações, senti falta) no começo do episódio, passando pela transformação da escola McKinley em uma escola de artes e a nomeação de Will Schuester como diretor, até Rachel casada recebendo o prêmio Tony e ainda servindo de barriga de aluguel para o futuro filho de Kurt e Blaine. Foi tudo muito bem desenvolvido e se apoiando nas emoções, sem forçar nenhuma resolução mirabolante.

Cada canção interpretada no episódio teve a missão de fechar páginas da história de cada personagem, seja pela performance de Rachel Berry com “This Time”, ou a emocionante e vibrante performance de Mercedes Jones em “Someday We’ll Be Together”. Até a última canção cantada por Sue e Will foi bem humorada e uma bela despedida desses dois personagens, “The Winner Takes It All” com certeza mostra uma espécie de redenção para a treinadora, depois de daqueles fracos episódios exibidos durante a temporada.

As canções “Daydream Believer” e “Teach Your Children” chegam de forma deixar o clima final ainda mais lacrimejante, aproveitando ainda para mandar o recado sobre ensinar as futuras gerações sobre aceitação, como fica claro na performance da primeira canção citada cantada por Kurt e Blaine em uma sala cheia de crianças. A última canção da série “I lived” foi tudo que se esperava para uma última performance de despedida de Glee, que reuniu praticamente todos os integrantes que passaram pelo “New Directions” durante esses seis anos, num coro maravilhoso demonstrando total emoção do elenco de atores.

A última cena faz uma perfeita alusão ao piloto, a começar pela vestimenta em vermelho e branco até a pose de encerramento da canção, tudo muito bem coreografado e com certeza marcante. Assim Glee termina sua jornada, destacando principalmente este dois últimos e magistrais episódios que conseguiram trazer um pouco da magia da série de volta e ainda nos lembrar que todos esses anos acompanhando os passos dos personagens do “New Directions” não foram em vão. É fato que todos sentiremos faltas das músicas, do drama, dos debates, das polêmicas, do humor e principalmente dos personagens inesquecíveis. Espero que um dia TV volte a fazer algo tão ousado, original e incrível como Glee, o mundo agradece.

Veredicto: A última temporada de Glee pode não a ser primorosa, aliás, ela é bem instável em alguns momentos, mas em parte consegue construir uma trama principal consistente nos últimos três episódios o suficiente para encerrar a jornada de seus personagens principais e ainda fechar de forma justa, coerente e porque não inesquecível a trajetória de um dos seriados mais originais que a TV já teve o prazer de exibir. Um triunfo musical, social e um tributo à tolerância, o legado de Glee será referência ao público adolescente e adulto por muitos anos.

 Nota: 3,5 ∕ 5

Observações direto do Glee Club:

Celebração: A atriz Jane Lynch fez um selfie com todo elenco durante a performance final, pode se notar a alegria do atores na celebração do fim da série.

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Elenco original: Senti falta de um pouco mais de história para Quinn, Noah Puckerman, Brittany e Santana, até Sam e Blaine ganharam mais destaque nesses últimos episódios, mas ainda assim foi legal vê-los cantando nos últimos minutos de “Dreams Come True”.

Top 6 músicas favoritas: Como é difícil escolher um top 6 de canções para toda a série, achei melhor escolher minhas seis favoritas desta última temporada.

– 1° – “Take Me To The Church”: Hozier – Performances: Roderick, Kitty Wilde, Jane Hayward e New Directions. (6×11)

                – 2° – “I Know Where I’ve Been”: Elenco de Hairspray – Performances: Unique Adams e Transpersons Choir. (6×07)

                – 3° – “Chandelier”: Sia – Performances: Mason e Madison McCarthy, Kitty Wilde, Jane Hayward e New Directions. (6×11)

              – 4° – “I’m So Excited”: The Pointer Sister – Performances: Maribel Lopez, Whitney Pierce, Carole Hudson-Hummel, Pam Anderson e The Troubletones. (6×08)

              – 5° – “Sing”: Ed Sheeran – Performances: Blaine Anderson e Dalton Academy Warblers. (6×01)

             – 6° – “Suddenly Seymour”: Little Shop Of Horrors – Performances: Blaine Anderson e Rachel Berry. (6×01)

Menções Honorsas: “Let It Go”: Frozen – Performance: Rachel Berry (6×01), “Mustang Sally”: Wilson Pickett – Performances: Roderick com Quinn Fabray, Santana Lopez e Brittany Pierce (6×02), “I Lived”: One Republic – Performances: Glee Cast (6×13) e “Cool Kids”: Echosmith – Performances: New Directions (6×09).

Melhores e piores episódios

                – Melhores: “Dreams Come True” (6×13), “We Built This Glee Club”(6×11), “2009”(6×12) e “The Wedding” (6×08).

                – Piores: “The Hurt Locker: Part 1” (6×04) e “The Rise And Fall Of Sue Sylvester” (6×10).

Legado: Deixe nos comentários sua opinião sobre o final da série e também qual música e performance mais te marcou ao longo dessas seis temporadas.

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