Estreia nos EUA hoje, dia 9 de Setembro, a sétima e também final temporada de Sons of Anarchy, drama movido à gasolina, motos e barbas criado por Kurt Sutter.
Assim como Justified ou Suits, Sons of Anarchy é uma dessas pérolas que acabam ficando escondidas na grade da TV fechada norte-americana e que ficam ofuscadas por grandes e badalados eventos de outros canais, mas que a gente acaba descobrindo um dia numa Netflix da vida ou por indicação de um amigo.
Então, aproveitando a data e para mostrar que somos amigos, vamos falar um pouco sobre Sons of Anarchy.
Criada por Kurt Sutter (produtor e roteirista de The Shield, o que por si só já serve um pouco como “credencial” pra série), Sons of Anarchy é uma reimaginação de Hamlet, de Shakespeare, num cenário de gangues de motos na Califórnia. Eu escolhi ir com essa descrição inicial da série porque ela dá uma pompa e um ar intelectual pra Sons of Anarchy (SoA) que eu não estava conseguindo passar com “Mano, a série é muuuuuuuuuito louca!”.
No seriado, a gente acompanha as peripécias da SAMCRO (Sons of Anarchy Motorcycle Club Redwood Original), uma gangue de motoqueiros que atua na pacata e pequena cidade de Charming, na Califórnia. Fundada há algumas décadas por veteranos da Guerra do Vietnam, a SAMCRO “hoje em dia” é comandada por Clay (Ron Pealman, o homem com o queixo mais garboso da TV mundial), um dos poucos membros-fundadores ainda ativos. Porém, nosso protagonista é Jax (Charlie Hunnam), filho de outro fundador do grupo, mas criado desde pivete pelo próprio Clay – que, aliás, casou com a mãe dele, Gemma (Katey Sagal). Já deu pra entender o lance do Hamlet na bagaça, né?
Próximo na sucessão como líder do grupo, o “príncipe” Jax encontra um diário escrito pelo seu pai falecido, mostrando uma visão ideológica totalmente diferente da qual a gangue se orienta hoje em dia e o mote da série é justamente ver o cara descobrindo que tipo de homem e líder ele vai ser.
Ao redor de tudo isso, nós temos toda a complicada e frágil diplomacia do submundo americano, onde um movimento em falso pode levar à um massacre organizado por uma gangue rival – e, jovem, como essas coisas acontecem frequentemente.
Inspirada pela sua influência Shakespeariana, SoA é o tipo de produção que vai proporcionar as mortes mais sofridas da sua experiência com esse negócio de “séries de TV”. Sim, em Game of Thrones e The Walking Dead as pessoas morrem de baciada e isso é ótimo (olá, eu sou um psicopata!), mas em Sons of Anarchy são justamente as pessoas que você mais gosta e menos quer se morram que vão pra vala – e com todo aquele delicioso extra romeuejulietiano onde as mais dolorosas mortes rolam por produtos do acaso e da compreensão errônea de certos fatos. Sabe aquela história de que por causa de um prego uma ferradura não foi feita e por causa da ferradura um cavalo não pode andar e por causa desse cavalo uma mensagem não foi entregue e por causa dessa mensagem uma guerra foi perdida? SoA é mais ou menos isso, só que com menos cavalos e mais de você deitado em posição fetal se perguntando “Por quê? Por que, ó Deus, por quê?”.
Em termos de estrutura, a série começa com uma primeira temporada que se assemelha ao tradicional estilo procedural (o chamado “caso da semana”) da TV aberta americana, mas com um “disfarce” meio fraquinho. Porém, esse formato só dura mesmo durante os primeiros episódios, que servem para situar o espectador daquele universo, suas regras e quem são os seus personagens. Quando a temporada termina levando o estômago do espectador para a boca, você sabe que já foi completamente fisgado por aquele universo e a história assume um formato mais literal.
Uma coisa que pode agradar à fãs de video-games é que, vez ou outra, episódios da série assumem um formatinho que lembra muito missões de jogos como GTA (ou Skyrim, só que com motos ao invés de dragões). Sabe aquela coisa de “Sua missão é X”, mas para isso você precisa ir até o ponto A e fazer tal coisa, mas chegando lá você descobre mesmo que seu lugar é no ponto B para evitar que Y aconteça, tudo intercalado com horas e horas de andanças pela cidade? Então, SoA tem esse espírito impresso em vários dos seus episódios – não é a toa que o seu criador queria tanto um game da série.
Claro, SoA tem problemas, não vou mentir pra você (nossa relação é construída na base da confiança, parceiro/a). O seriado tem sim as suas pisadas de bola. Por exemplo, o roteiro de alguns episódios (principalmente no começo da série) parecem um pouco… rústicos. Vamos exemplificar: no piloto da série, o criador queria uma música de Elvis Presley para tocar enquanto amarrava os eventos do episódio numa montagem só. Pra isso, ele coloca um dos personagens da série fazendo um cover do Elvis numa casa de shows – mas essa coisa do “cover” aparece só mais umas 2 vezes na série toda, o que meio que dá a impressão de ter sido um pouco forçado pra “justificar” a primeira montagem, entende? Esses tipos de detalhes, além como algumas claras inexperiências na atuação (Charlie Hunnam, estou falando com você) ou na direção de episódios, vão sumindo com o tempo e com o fato da série ir ficando mais e mais confiante em si mesma, então não se preocupem muito com isso.
Eu poderia escrever mais uns 8 parágrafos sobre o programa aqui, mas a ideia desse texto não é fazer uma review de Sons of Anarchy, mas dizer porque você deveria conferir a série. Assim, vou concluir com uma listinha de coisas bem fodas que você vai encontrar por lá e que podem te motivar a conferir o seriado:
PS: as primeiras 3 temporadas saíram em DVD no Brasil e as primeiras 4 estão disponíveis na Netflix.