Hannibal | Primeiras Impressões

Complicado. Não se produz mais nada original e atrativo o bastante na atual geração de filmes ou livros que possa ser adaptado para uma série, por exemplo. Se existe, não conheço. Tivemos o caso de Zumbilândia, mas esse não deve ser levado em conta por um motivo: hype. Zumbis estão na moda.
Essa falta de algo sólido anda gerando apostas como Hannibal, série da NBC que estreia no Brasil no dia dezesseis pelo canal pago AXN. O universo foi apresentado ao público a algumas décadas atrás, com filmes como ‘’Silêncio dos Inocentes’’, ‘’Dragão Vermelho’’ e ‘’Hannibal’’, e por conta de sua qualidade e apelo, retorna as telas americanas em formato serial, assim como seu protagonista.

Antes que as polêmicas saltem nos comentários, farei algumas considerações. Em primeiro lugar, não vejo problema algum em recontar histórias consagradas, desde que isso não se torne uma obsessão. E se você acompanha o mundo do cinema, amigo, sabe do que estou escrevendo. Em segundo lugar, sou um admirador das histórias de Hannibal Lecter, tanto nas páginas do livro de Thomas Harris, quanto nas telonas. Cresci vendo carne humana ser consumida elegantemente pelo doutor Lecter. Não por acaso, sou também fã de Anthony Hopkins.

Ok. Acho que a partir daqui podemos falar da nova série da NBC.

Mads Mikkelsen como Hannibal.

Lembrando que o texto pode conter spoiler. Depende do seu humor. Recomendo que você leia somente após o término do episódio.

A história se baseia no aclamado livro ‘’Dragão Vermelho’’, de Thomas Harris, que originou o filme de mesmo nome lançado em 2002. Assim como nas páginas de Harris, acompanhamos o investigador especial Wiil Graham e suas peculiaridades. Will se destaca dos investigadores comuns por sua capacidade única de percepção e recriação dos crimes investigados, além de demonstrar sérios problemas psicológicos. Os crimes, o sangue e a barbárie que lhe é empurrada todos os dias ajudam a desenvolver um transtorno quase psicopata em Will, que muitas vezes precisa se colocar na pele do assassino para resolver os mais variados casos. O problema se agrava quando isso passa a afetar suas noites de sono, seus momentos de descanso, etc. Will é interpretado por Hugh Dancy, que não decepciona em aparentar-se afetado ou transtornado.

Conhecido por seu ‘’dom’’, Will é convidado a ajudar Jack Crawford, chefe do departamento de ciências comportamentais do FBI, em um caso envolvendo o desaparecimento de oito jovens mulheres. Crawford acredita que Will tem a mente necessária para decifrar os passos do assassino serial e capturá-lo, além de entender o que o criminoso pensa, antecipando-os. No meio das investigações, contudo, Crawford percebe que a habilidade de Will é na verdade algo fora do normal, prejudicial, e acaba indo atrás de um psicólogo que pudesse analisar o investigador. Esse psicólogo é ninguém menos que o Dr. Hannibal Lecter, responsável pelos crimes de canibalismo cometidos nas garotas.

Dr. Lecter, então, passa a se interessar não só pelo caso (que é sobre seus próprios crimes), mas por Will, que demonstra traços psicóticos absolutamente parecidos com os seus.  A ligação criada entre eles é muito maior do que a psicólogo-paciente, e a proximidade de seus pensamentos torna a discussão muito mais interessante. Os dois pensam de formas semelhantes, mas um comete crimes, o outro os resolve.
Jack Crawford é interpretado pelo imponente Laurence Fishburne, que consegue, sem muita dificuldade, demonstrar que a situação está sob controle. Para interpretar Hannibal a série conta com Mads Mikkelsen, que despensa apresentações e já provou que sabe interpretar um psicopata.

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Como introdução ao mundo mentalmente insano de Hannibal, o piloto funciona. Não consigo dizer se uma pessoa que desconhece o personagem teria a mesma visão. Eu sempre mantive a curiosidade em suas histórias, e por isso fica fácil assistir algo relacionado ao Dr. Lecter sem criar muitos questionamentos. Mais fácil ainda é perceber que todos os clichês de séries investigativas estão lá, e vão desde o vilão calculista até o policial que resolve casos a partir de iluminações, sem estar necessariamente ligado as provas. A série é democrática nesse ponto, e não vejo como algo positivo.

Impossível avaliar a série a partir do piloto. Mas podemos traçar alguns comentários envolvendo, por exemplo, o uso do roteiro dramático. A visão do espectador é onipresente e, diferente de outras séries investigativas, o caso é solucionado na tela antes do investigador. Se Will precisa decifrar uma cena criminal, a câmera cortará para o autor do crime se livrando dos vestígios, e por aí vai. Esse tipo de roteiro não me agrada muito, mas se tratando de Hannibal, e de sua série, não há outra maneira de narrar seus crimes se não essa. De qualquer forma, não adiante criar suspense. Manter o assassino incógnito não tem validade. O dono do caos é o mesmo que dá nome à série.

Aparentemente, a série vai se focar no debate psicológico. E isso sim, me agrada. Como entusiasta da área, prefiro uma boa discussão envolvendo duas mentes insanas do que a busca por resolver crimes. A análise fria e calculista de Hannibal sobre o distúrbio de Will, e o contrário também. Um planeja desvendar o outro. Cada um, porém, dentro de seus propósitos e de suas maneiras.

Equipe de filmagem em um das melhores cenas do piloto.

O que vale, portanto, é a relação entre os dois. Tivemos sangue? Sim. Pedaços humanos dilacerados? Também. Mas o potencial está no desenvolvimento desses dois personagens, tão distantes e tão próximos.
A série terá treze episódios, e continuarei de olho em todos eles. A série é promissora.

Detalhe para a belíssima cena em que Dr. Lecter corta elegantemente um belo pulmão jovial.

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