Crianças, isso foi How I Met Your Mother

Nessa última segunda-feira, dia 31 de Março, o CBS divulgou nos EUA os últimos 40 minutos de How I Met Your Mother, sitcom criada pela dupla Carter Bays e Craig Thomas.

O episódio final da série (com o dobro de duração que o habitual porque são “dois episódios”) concluiu a busca de Ted Mosby (Josh Radnor) pelo amor da sua vida, fechando de vez a história dos cinco amigos de Nova York. Esse texto contém as minhas impressões finais sobre a série, a sua última temporada e, especialmente, o seu último episódio – ou seja, obviamente que essa brincadeira aqui contém spoilers.

Last Forever Part One

Antes dessa temporada estrear, os criadores da série prometeram que o último ano de How I Met Your Mother seria diferente do que a gente já tinha visto e seria facilmente reconhecível caso a gente esbarrasse com alguma reexibição na TV tempo depois.

Pode não ter sido a promessa mais animadora de todas (as pessoas tendem a gostar quando prometer algo como “será o melhor ano de todos” ou “essa temporada será espetacular”), mas não dá para negar que foi uma promessa cumprida.

A nona temporada de How I Met Your Mother fugiu do padrão da série ao levar os personagens para o fim de semana do casamento entre Barney (Neil Patrick Harris)  e Robin (Cobie Smulders) em Farhampton. Inicialmente essa mudança de cenário pode não significar nada e eu concordo que em outras séries isso provavelmente não significaria, mas How I Met Your Mother (HIMYM) é uma comédia com elementos característicos que praticamente vão contra essa limitação espaço-temporal imposta pela premissa da temporada.

Veja bem, limitar uma comédia SITUACIONAL à situações baseadas num único contexto já é contraproducente (Seinfeld dizia que seu texto era sobre “nada”, mas – por mais contraditório que possa parecer – o nada ainda é mais amplo do que uma coisa só), mas HIMYM ainda é uma série que se criou com base em elementos (como piadas recorrentes baseadas em contextos diferentes) que criavam obstáculos ainda maiores para essa nona temporada. Vou ilustrar com um exemplo: a piada da continência entre Ted e Robin quando um deles diz algum termo militar. Pra quem não manja muito de Inglês a piada não tem tanta graça, mas é “fofinha” pra quem entende o que eles estão fazendo. Esse recurso pode ser engraçado quando os dois estão obcecados com isso num almoço, pode nos pegar de surpresa quando a gente tinha esquecido que eles faziam isso no bar e faz com que a gente faça um sonoro “owwwwwwwn” quando eles se despedem assim. A mesma piada ganha valores diferentes em contextos diferentes.

HIMYM Ultimo episodio 02Adicionar novos elementos desse tipo nessa nona temporada foi provavelmente um desafio para os roteiristas e algo que me deixou um pouco cético quando foi anunciado que os 24 episódios se passariam no intervalo de tempo do casamento entre Barney e Robin. Foi com alegria então que eu vi a primeira metade da temporada mostrando que não era bem assim e que eles calaram minha boca.

A primeira metade desse último ano trouxe uma renovação à uma série que já se diferenciava de outras do mesmo formato, mas mantendo aquilo que era mais importante pros fãs: a evolução da jornada desses personagens. O fato é que quem via HIMYM (provavelmente) não via pela próxima piada do Marshall ou pelo próximo truque do Barney, mas pelos eventos nas vidas daquelas pessoas (e eram entretidos enquanto isso pelas piadas e truques deles – ou vai ver isso só acontecia comigo). Nesse ano, nós vimos HIMYM se assumir como uma dramédia (e o drama aqui não vem de dramalhões com choradeira, mas drama no sentido de forma narrativa focada no desenvolvimento da trama/personagens através de conflitos ou atritos), já que aqueles personagens eram o mais importante para quem assistia. Mesmo assim, o seriado adicionou algumas novas piadas pra enfeitar as conversas entre seus fãs (Obrigado, Linus) e soube usar as suas características mais marcantes (o jogo com momentos no passado e no futuro; a maneira criativa de reimaginar coisas – por exemplo a transição para contar o que aconteceu com alguns coadjuvantes que foi feita através de um plano sequência como aquele do super-encontro de 2 minutos entre Ted e Stella).

Depois, a segunda metade da temporada seguiu por um caminho mais “fácil”, apostando na nostalgia antecipada dos fãs para mergulhar na sua própria mitologia e encerrar as suas pontas soltas – o que é perfeitamente Ok e exatamente o que a gente esperava.

Ok, mas sem  enrolação… e o final?

Tem uma razão do porquê esse texto ter demorado pra sair: por mais estranho que possa parecer, eu estava pensando sobre esse final (sim, sim, que surpresa, eu sou capaz de pensar).

Sendo honesto, ainda estou um pouco dividido sobre essa conclusão de How I Met Your Mother e pode ser que daqui há 5 anos eu reassista o episódio e o ache pior do que aquela gravata de pato do Barney ou a coisa mais fantástica já feita. Mas, hoje, eu gostei do QUE aconteceu, mas não de COMO aconteceu.

Mas vamos por partes, como diria Jack, o estripador. Começando pelos menos polêmicos, Lilypad (Alyson Hannigan) e Marshmallow (Jason Segel).

A conclusão do casal perfeito não tinha muito como ser diferente. Depois de uma temporada às turras, a dupla efetivamente vai pra Itália com o Marshall rejeitando a posição de juiz e ganhando mais um filho, mas depois eles voltam, o cara sofre um pouco como advogado para depois ganhar a posição de juiz e mais um terceiro bebê. Mostrou que o peso da decisão “sonho do Marshall vs. sonho da Lily” estava apenas no processo de FAZER a decisão do que na consequência em si, o que está ok para a dupla.

Já com o Barney, a polêmica começa. Veja bem, nós tivemos pelo menos duas temporadas de preparação e construção para a ideia de “Barney Stinson casado com Robin Scherbatsky”. Mais do que isso, nós tivemos pelo menos mais dois anos com a elaboração da ideia “Barney Stinson casado” – ou alguém já se esqueceu da Nora (temporadas 6 e 7) e da Quinn (temporadas 7 e 8)?

Então, quando o cara finalmente diz o “Sim” com a canadense, eles ficam casados por dez minutos três anos antes de finalmente se divorciarem. Eu sei, ainda dói de lembrar.

HIMYM Ultimo episodio 03Mas eu realmente gosto muito do conceito do que eles fizeram: a “garota certa” para o Barney é a filha dele (não como você está pensando, seu pervertido! Qual o seu problema, cara?). Eu só gostaria que eles tivessem isso em mente antes – ou tivessem feito de maneira diferente.

HIMYM sempre foi uma série sobre encontrar quem vai te completar. Algumas pessoas são como Marshall e Lily e conseguem algo assim logo de cara, mas outras, como Barney e Ted, vagueiam pela vida até conseguir algo assim. Barney, por sua vez, ainda possui alguns problemas de abandono terríveis (o fato dele inventar estatísticas com 83% e 1983 ser o ano em que o pai dele o abandonou não são coincidências, cara). Então, a menina dos sonhos dele ser aquela que não vai abandoná-lo nunca faz todo o sentido – e o relacionamento dele com a Robin fracassar porque ela não estava presente, também.

Mas eu não consigo evitar em colocar um “mas” nessa história – o que, como já dito antes, pode ser por causa do episódio ainda ser tão recente. Acho que se o casamento terminado em divórcio fosse com a Quinn, por exemplo, ficaria mais em harmonia com o que estava guardado para Ted e Robin.

Ted, Robin e a visão de amor de HIMYM

Desde o início, HIMYM era uma série sobre encontrar o amor da sua vida. O seriado acreditava (como reforçou várias vezes em vários momentos), que nós temos uma meia velha pro nosso pé descalço, a metade de nossa laranja, a tampa da nossa panela… enfim, o amor da nossa vida em algum lugar por aí.

Agora, pessoalmente, eu sempre discordei dessa visão. Nas palavras do sábio Tim Minchin, “amor não tem nada a ver com perfeição pré-destinada, a conexão é fortalecida e a afeição cresce com o tempo, como uma flor ou um cogumelo ou um porquinho da índia ou uma videira ou uma esponja ou fanatismo. Ou uma banana“.

Mesmo discordando dessa visão, eu sempre aceitei que era assim que a banda tocava na série e que a Mãe era a Princesa Encantada do Ted e coisa e tal. E, como não poderia deixar de ser, ele encontra o amor da sua vida, casa, tem dois filhos (não necessariamente nessa ordem) – e aí ela morre.

Triste pra caramba. Incoerente pra caramba?

Last Forever Part One

Nós vimos a Robin dizer que não ama o Ted, nós vimos o Ted finalmente superar a Robin nessa temporada e, mesmo assim, os dois terminam juntos. Caramba, parece até egoísta: Ted queria filhos, Robin não queria (e não podia) ter filhos – aí surge a mãe, dá dois filhos pro Ted e convenientemente morre deixando o cara com tudo que sempre quis. Parece cruel.

Acho que a gente consegue ver essa situação de duas formas:

A primeira é a forma que muita gente acabou seguindo: desapontamento. A série passa 9 anos prometendo que existe uma lebenslangerschicksalsschatz no fim do arco-íris, mas a história termina com a beinaheleidenschaftsgegenstand? Eles prometeram um final de conto de fadas, eles só fizeram isso pra agradar todo mundo!

A referência ao primeiro episódio foi legal, vai...
A referência ao primeiro episódio foi legal, vai…

A segunda forma é uma visão um pouco mais realista. Sim, pode até existir uma lebenslangerschicksalsschatz pra cada um, mas isso não significa que você TERMINE com ela – aliás, essa coisa de que o que vale mesmo é o final é uma concepção até que errônea demais. Ted viveu com a Mãe (não consigo chamá-la de Tracy), mas isso não significa que aconteceria pra sempre – casais perfeitos se conhecem, ficam juntos e eventualmente se separam por diferentes motivos. A Mãe teve o Max (aliás, a relação dela com esse ex-namorado foi uma dica sutil do futuro do Ted, assim como o fato dele ter ficado obcecado com Teddy Roosevelt, cuja primeira esposa faleceu), a Robin teve o Barney, Lily e Marshall se tiveram. Foi especial, foi o conto de fadas prometido, mas a promessa nunca incluía eternidade – e um sopro de realidade pode ter colocado esse castelo no chão.

Sério, a série e os seus criadores podem ter mudado de ideia, talvez eles próprios não acreditem tanto assim no amor ideal, talvez eles nunca tenham achado que o fim importe, mas sim o caminho pra isso. Ted e a Mãe ficaram juntos, afinal – e foi eterno enquanto durou.

Talvez, conceitualmente, foi isso que eles fizeram. Talvez eles quiseram mostrar realmente que “a pessoa certa” é uma questão de timing, é uma questão de quem nós somos naquele momento e do que precisamos. Talvez Ted e a Mãe (ok, vai, Tracy…) não fossem dar certo caso tivessem se conhecido, sei lá, na primeira temporada.

Mas se foi esse o caso, então o problema não é conceitual, mas de execução, porque roteiristas e produtores não conseguiram passar essa ideia durante esses nove anos. Quer dizer, quantos relacionamentos do Ted acabaram porque “não era pra ser”? Com a Victoria era pra ser duas vezes e nunca foi, a Stella trocou o Ted no altar pelo ex-namorado (foi tipo, “Desculpa Ted, mas ele é o meu lebenslangerschicksalsschatz e você não”), a própria Robin em temporadas anteriores…

Meu ponto é que eles sempre nos mostraram que existia uma criatura mística com um nome alemão complicado que seria o alvo a se perseguir, mas nunca construíram a ideia de que casais “não-destinados” pudessem ter sucesso. Acho que minha (ligeira) insatisfação nasce da dúvida se o final da série quebra a ideia dos nove anos de seriado ou se foi uma boa ideia má executada – talvez se a última temporada fosse todo esse período do último episódio e não o foco todo do fim de semana de um casamento que acaba 10 minutos depois?

Mas não significa que eu pense menos de HIMYM por causa disso, ainda continuo achando que foi uma das sitcoms mais inovadoras em termos de narrativa e interação com o público, além de ter criado e interagido com o seu público de maneira tremendamente competente.

Com falhas e defeitos, How I Met Your Mother foi realmente legen-wait for it-dary!


HIMYM Ultimo episodio gif

Mas e você, leitor? Qual a sua visão para o fim de How I Met Your Mother? Conte-nos nos comentários!

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