Socialmente inaptos, uni-vos!
O Projeto Rosie é um livro que pode ser descrito assim: Muita inaptidão social. Em geral, praticada pelo protagonista e narrador, Don Tillman, um professor de genética ligeiramente sem noção.
Don é aquele tipo que não é tímido, mas é inapropriado, sem filtros e com uma maneira de pensar muito preto no branco. Baseando-se em fatos e limitando-se a eles, ele não tem a flexibilidade e empatia natural da convivência em sociedade. Por esses e outros motivos, relacionamentos, principalmente com mulheres, são um desafio que ainda não foi vencido.
Na tentativa de conquistar esse obstáculo, ele cria, com ajuda de alguns dos poucos amigos que tem, o Projeto Esposa: Um questionário que deve dar suporte a Don na busca por um grupo seleto de mulheres apropriadas entre as quais ele poderá então encontrar sua alma gêmea.
A partir daí, começa uma sequência de eventos sociais muito estranhos, todos narrados por Don; No momento em que Rosie entra na história, o contraste entre os dois personagens é tão grande que o resultado só pode ser um desastre ou um romance (talvez os dois).
O livro não é exatamente surpreendente em termos de história, mas se destaca no quesito narrativa. Graeme Simsion criou um personagem quase sem empatia que consegue, até certo ponto, ser simpático. As desventuras de Don e Rosie talvez não fossem tão emocionantes se não fosse pela maneira mecânica como são contadas, o que adiciona um elemento inusitado de comicidade. Acho que há certa semelhança entre Tillman e o Sheldon de The Big Bang Theory na maneira de agir – sistemática, agendada, automática. A diferença está no fato de, n’O Projeto Rosie, o protagonista ter consciência de como os outros o percebem e capacidade de entender porque sua imagem é tão singular ao ser humano comum.
O relacionamento entre Don e Rosie é interessante; Enquanto ele está completamente preso à rotina que estabeleceu, ela não consegue chegar no horário em compromissos. Quando se juntam, inevitavelmente criam situações estranhas para um dos dois (ou ambos). Enquanto Rosie força Don a agir de maneira mais espontânea, ele a ajuda numa busca pessoal visando um pouco de paz de espírito.
Apesar da inaptidão de um e da inadequação de outro, eles se gostam. De certa forma, a relação entre eles parece mais uma amizade do que um romance. Rosie não passa das perguntas mais importantes do questionário do Projeto Esposa, porque entre vários outros defeitos ela é fumante. Don é… Don. A interação entre os dois é sempre estranha e cômica, mas ao mesmo tempo desperta simpatia.
O Projeto Rosie não é um romance comum, e suas singularidades podem incomodar os leitores que procuram por algo menos específico. É uma história que não chega perto do drama, sendo mais fiel à comédia, no entanto, seu humor foge do lugar comum e provavelmente nem todo mundo vai gostar, principalmente se levarmos em conta o narrador.
No entanto, apesar de ser peculiar (ou talvez por ser), a história de Don e Rosie é interessante, engraçada e uma leitura leve. Provavelmente, em algum momento da leitura, você vai esconder a cara no livro para rir ou por vergonha-alheia, mas no final das contas, se o livro fizer o seu tipo, a diversão é garantida.
Num balanço geral, diria que O Projeto Rosie é indicado para as pessoas que gostam de livros voltados para o cômico, com gosto flexível e inusitado.