Anônimo, de Roland Emmerich

Pelas mãos de Roland Emmerich (Independence Day) William Shakespeare voltou ao cinema em 2012, mas de forma polêmica. Em Anônimo, o diretor aborda a teoria de que o principal dramaturgo inglês nunca existiu e que na verdade as grandes obras como “Romeu e Julieta” e “Hamlet” teriam sido escritas pelo 17º Conde de Oxford, Edward de Vere. O debate sobre a existência ou não de William Shakespeare não é nada recente, remonta ao século XVIII.

Os grandes estudiosos sobre a vida e a obra de William Shakespeare não possuem a menor dúvida: ele existiu. Mas há aqueles que ainda não acreditam nas poucas evidências sobre o autor inglês, pois argumentam que tais documentos são vagos demais e não afirmam que William Shakespeare de Stratford-upon-Avon tenha sido o responsável pelas maiores obras literárias de todos os tempos. Essa é, aliás, o ponto de partida do filme Anônimo que embarca em uma das várias teorias sobre a não existência de Shakespeare e apresenta um ponto de vista interessante sobre o contexto histórico no qual se passa o enredo do filme.

Emmerich nos transporta a corte da Elizabeth I nos últimos momentos de sua vida e para a periferia de Londres, onde, fora do alcance das autoridades, vivia uma população que se divertia com espetáculos violentos, jogos e assistindo peças teatrais. Fica evidente também o posicionamento religioso entorno das peças e obras de teatro consideradas uma afronta a fé e a moral cristã. No entanto Anônimo perde-se ao expor personagens reais de forma caricata, explorando o maniqueísmo a fim de realizar um enredo de encontros e desencontros. A construção artística do filme é impecável e nos fornece elementos para compor uma análise sobre o Renascimento inglês que teve em Shakespeare o principal expoente literário.

É importante destacar a forma como a atividade teatral vai evoluindo durante o filme. Num primeiro momento as peças de teatro parecem um simples divertimento das massas, mas que representa um perigo muito grande às autoridades. Esta última percepção fica mais evidente quando as obras de William Shakespeare, segundo o filme escritas por Edward de Vere, começam a fazer sucesso e transformam-se em arma ideológica que incita o povo a rebelar-se contra as autoridades.

anonimo-posterEm relação à polêmica questão da autoria de Shakespeare, existem diversas teorias afirmando que o grande literato inglês nunca tenha existido e que suas principais obras seriam frutos de um escritor ou de um grupo de escritores anônimos. As obras de Shakespeare já foram atribuídas a Francis Bacon, Christopher Marlowe, o Conde de Essex e a Edward de Vere, Conde de Oxford.

William Shakespeare teve imagens contraditórias ao longo dos anos. O autor inglês já foi retratado como escritor rebelde, um romântico incurável, um hábil plagiador e até como um ator trapaceiro e ganancioso – interpretações que foram bastante exploradas no filme.

Anônimo explora a tese oxfordiana de que o 17º Conde de Oxford foi o responsável pelas obras literárias atribuídas a Shakespeare. Os que acreditam neste ideia afirmam que existem muitas coincidências entre diversos momentos nas peças shakesperianas e entre a vida de Edward de Vere; que o conde de Oxford possuía proximidade a Rainha Elizabeth I e era um homem com vasta educação e inteligência.

A questão sobre a educação de Shakespeare sempre surge no debate sobre a autoria de suas obras. Os que questionam a autoria afirmam que seria praticamente impossível que um ator de classe média que nunca frequentou uma universidade pudesse ter se tornado o maior poeta inglês. Outros estudos mostram o contrário, que William Shakespeare de Stratford-upon-Avon, filho de John Shakespeare, um fabricante de luvas, frequentou a Petty School e a Grammar School. Shakespeare teria tido uma educação típica das escolas elisabetanas, onde se valorizava o latim, os textos clássicos, o ensino da retórica e da lógica, reescrita de textos e traduções do latim para o inglês e do inglês para o latim. Quando John Shakespeare enfrentou problemas financeiros, William ainda adolescente deixou a escola. O fato de William Shakespeare nunca ter frequentado uma universidade tem sido apontado como uma contradição por aqueles que desconfiam da autoria das obras, mas sabe-se que a maioria dos autores daquele tempo também não frequentaram universidades.

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Anônimo, de Roland Emmerich consegue parecer melhor que os últimos filmes do diretorÉ interessante perceber o modo como Emmerich constrói a sua narrativa sem deixar de lembrar que está abordando um dos maiores literatos que já existiu. A polêmica questão da autoria de suas obras serve como ponto de partida para uma história cheia de intrigas, conspirações e suspense que mostra como a História encontra no cinema espaço para diferentes interpretações e como a licença poética preenche as lacunas que por vezes os estudiosos têm dificuldades para preencher.

Anônimo está disponível no catálogo da Netflix.

Esse texto foi atualizado do original publicado no blog “História em Cartaz” no dia 13 de março de 2012.

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