#Miiquality from Tyeforce on Vimeo.
Nas últimas semanas, uma campanha tem ganhado força e expressão (principalmente) na Internet sobre Tomodachi Life, um game da Nintendo para 3DS que finalmente chegará ao Ocidente.
Lançado em Abril do ano passado no Japão, o título é um simulador de vida, algo como The Sims, misturado com alguns elementos de jogos como Animal Crossing, por exemplo. não poderia deixar de ser, o game se tornou um grande sucesso no Japão, sendo um dos títulos mais vendidos para o 3DS no ano e, agora, deverá chegar ao Ocidente.
Em Tomodachi Life, o jogador cria seu personagem para habitar uma ilha cheia de Miis e passa a controlar a sua rotina um jogo que é pesadamente focado no relacionamento entre os personagens. Seu avatar poderá então fazer amigos, rivais e passar por várias experiências diferentes, incluindo o casamento – exceto se seu avatar for homossexual, já que casamento entre Miis do mesmo gênero não é possível em Tomodachi Life.
Sabendo dessa limitação, o americano Tye Marini, de 23 anos, postou um vídeo nas Interwebs iniciando a campanha #Miiquality, com o objetivo de abrir a cabeça da Nintendo e que ela inclua opção de casamento entre Miis do mesmo gênero no jogo – você pode ver o vídeo de Tye no começo desse post.
Hoje, finalmente a Nintendo respondeu à campanha através da AP:
[quote]A Nintendo nunca teve a intenção de fazer nenhuma forma de comentário social com o lançamento de Tomodachi Life. As opções de relacionamento no jogo representam um mundo alternativo lúdico em vez de uma simulação da vida real. Esperamos que todos nossos fãs vejam que Tomodachi Life foi criado para ser um jogo peculiar e excêntrico, e que nós absolutamente não estamos tentando fazer nenhum tipo de comentário social.
A possibilidade de relacionamentos de mesmo sexo não era parte do jogo original lançado no Japão e o jogo é criado a partir do mesmo código que foi usado para localiza-lo para outras regiões fora do Japão.[/quote]
A ironia da situação é que, ao se recusar a fazer “um comentário social” (wat) nessa questão, a Nintendo acaba fazendo um verdadeiro comentário social – só que do pior tipo.
Ao classificar a possibilidade de casamentos homossexuais no game como “comentário social” (wat 2), a Nintendo classifica relacionamentos heterossexuais como normais, num comentário social heteronormativo. E não dá nem pra dizer que essa situação é “acidental”, porque a própria lógica de programação para uma situação assim no jogo nega a Nintendo.
Veja bem, apesar de não ser um especialista em programação de joguinhos (ou programação no geral), mas é seguro presumir que a linguagem do game (assim como a maioria das outras linguagens de programação) se baseie na lógica de Condições e Consequências – “SE o Mario pega um cogumelo, ENTÃO ele fica maior”, coisas do tipo.
Apesar de não ter jogado Tomodochi Life, também é seguro afirmar que a opção de propor um casamento entre dois Miis deve estar em algum item, menu, quest ou afim. Essa opção provavelmente segue a já citada lógica de Condições e Consequências (“Se dois personagens aceitam, então eles se casam”). Se o casamento homossexual não é possível, é porque uma das condições determinadas pelo game é que precise existir um Mii masculino e outro feminino para o casamento ocorrer – o que É uma DECISÃO INTENCIONAL da Nintendo. Eles poderiam definir que só era preciso que dois Miis concordassem com a união, mas especificamente determinaram que precisava ser um Mii masculino e outro feminino – o que caracteriza um comentário social de que apenas relacionamentos heterossexuais são aceitos no simulador de vida da Nintendo.
Então, quando a Nintendo diz que “não queria fazer um comentário social” com Tomodachi Life, é mentira. Ela queria. E fez.
Como um fã de longa data da empresa (quem acompanha nossos podcasts éstá ciente da contínua piada interna em forma de discussões sobre a Nintendo), é com absoluta tristeza e nojo que vejo a Nintendo se comportar assim. Como pode a empresa mais inovadora da indústria dos games, a empresa mais focada no desenvolvimento de novas ideias e novas maneiras de evoluir o mercado ser, ao mesmo tempo, uma empresa com uma mentalidade tão tacanha e limitada? Já era ruim o suficiente não colocar a opção de casamento homossexual no código base do jogo, mas se negar a fazer um patch corretivo é de uma limitação incompatível com uma presença tão experiente e icônica nessa indústria.
O que a Nintendo pensava? Que pais não comprariam Tomodachi Life para seus filhos se o game permitisse casamentos gays? Bom, eu sei que, se eu tivesse um/a filho/a, hoje eu definitivamente não compraria Tomodachi Life pra ele/a.