Thor: O Mundo Sombrio | Crítica

Nessa sexta-feira, dia 1º de Novembro, estreia nos cinemas nacionais o longa Thor: O Mundo Sombrio, a segunda aventura solo do asgardiano Thor (Chris Hemsworth), da Marvel.

Ao seu lado estarão Odin (Anthony Hopkins), a astrofísica Jane Foster (Natalie Portman) e o perigoso Loki (Tom Hiddleston), responsável pelos atos de vilania em Os Vingadores, no ano passado. Nesse longa, Thor tem de enfrentar Malekith, o Maldito (Christopher Eccleston), um Elfo Negro adormecido por milênios, que acorda para tentar mergulhar o universo em escuridão e voltar à entregá-lo ao seu povo.

Além disso, esse é o segundo filme da Marvel Studios em 2013 e também o segundo da sua Fase 2 nos cinemas (que irá culminar em Os Vingadores 2). Com essa responsabilidade em mãos, o que Thor: O Mundo Sombrio tem para nos oferecer? Vamos descobrir!

Thor 2 poster

A primeira coisa que me veio à cabeça quando a projeção de Thor 2 acabou é o quão serializada a narrativa da Marvel nos cinemas ficou – e como isso afeta positiva e negativamente esse filme.

Com o seu universo compartilhado tão ligado, é inevitável ter a sensação de que estamos assistindo à uma grande série de TV que ganha novos episódios de 2 horas à cada 6 meses. Se por um lado, Thor 2 se aproveita desse sentimento de continuidade da narrativa da Marvel nos cinemas para dobrar o peso das suas decisões finais, por outro o filme peca muito por não apresentar absolutamente nenhuma novidade em um gênero um pouquinho saturado.

Vamos lá tirar a parte ruim da frente, então.

Desde 2008, com Homem de Ferro, a Marvel Studios apresentou o “estilo Marvel” de se fazer filmes de super-heróis, algo que eu gosto de falar como “filmes de heróis modernos”. O estúdio quebrou vários clichês do gênero (como usar super-heróis com identidades secretas, precisar resgatar a mocinha no fim, etc) e ainda aproveitou para criar alguns novos, inspirando não só outros filmes de super-heróis, mas toda a indústria do entretenimento (basta ver QUANTOS projetos de universos compartilhados estão surgindo por aí).

Thor: O Mundo Sombrio é um fantástico exemplo de como esse método funciona, mas ele não adiciona nada à essa brincadeira. Explico: a trama do filme gira em torno de um trope bem conhecido – “os planetas vão se alinhar e é a ocasião perfeita pro vilão dominar o mundo”. Hollywood provavelmente já produziu centenas de longas com essa premissa, principalmente no fim dos anos 90 e com a chegada do novo milênio.

É aí que entra o método Marvel pra modificar a brincadeira, adicionando uma boa dose de humor com pitadas de mitologia interna para fazer com que esse plot já tão utilizado pareça algo com frescor. Funciona muito bem e dá pra assistir o filme tranquilamente e não se incomodar em ver algo reciclado nas telas. Porém, o fato do método Marvel funcionar tão bem, faz com que a produção de Thor 2 fique um pouco preguiçosa e não ouse nada mais, não vá além quando precisa.

Então nós temos aquela questão de como a narrativa serializada da Marvel acaba agindo negativamente. Se nós temos um novo filme de super-heróis a cada 6 meses, e então esses filmes não adicionam nada de novo à essa fórmula, aí gera um desgaste pesado em quem assiste.

Thor-2-Critica-05

Mas nem só de coisas ruins se faz Thor: O Mundo Sombrio. Se o filme acaba ficando cansativo quando a gente leva toda a cronologia da Marvel em consideração, o longa fica MUITO melhor quando observado em separado (e, principalmente, quando levarmos em consideração a experiência de assistí-lo).

Em Thor 2, o expectador tem um gibi levado às telas. As cenas de ação plásticas interrompidas por momentos de humor, o vilão quadrinesco e o mergulho dentro da sua própria mitologia estão ali, criando uma atmosfera que é muito boa para quem está atrás de um entretenimento casual e de qualidade – eu diria até que Thor: O Mundo Sombrio é o tipo de filme perfeito para ir com os amigos no cinema, sair e comer alguma coisa e depois voltar pra casa sorrindo porque passou algumas horas sem preocupações na cabeça.

O mérito (ou desmérito, caso você prefira um filme um pouco mais sólido e, principalmente, que fique na sua cabeça depois de assistí-lo) disso é bem mais da Marvel Studios do que do diretor Alan Taylor (Game of Thrones), que substitui Kenneth Branagh (o diretor de Thor). A grande contribuição de Taylor para o filme se vê apenas na tentativa de tirar um pouco do CGI etéreo da Asgard do primeiro filme e tornar o mundo de Thor mais real, mesmo que apenas por pouco tempo, já que a necessidade da Casa das Ideias de tirar o aspecto medieval que o núcleo do Thor tem nos quadrinhos e adicionar muitos aspectos de ficção-científica torna a identidade visual de Asgard um pouco confusa e meio que anula o trabalho do diretor.

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No campo das atuações, nenhum membro do elenco tem espaço o suficiente para chamar a atenção, mas todos eles são bons o suficiente para evitar algum tipo de artificialidade em cena (e talvez esse negócio da Marvel de fazer todos os seus filmes como episódios de uma grande série de TV tenha tirado a necessidade de se explorar a personalidade dos seus protagonistas em cada nova aventura). Chris Hemsworth está à vontade no papel de Thor, um personagem que está mais à vontade no lugar que ocupa e que passa esse novo filme dividido entre as suas obrigações naturais e os seus desejos pessoais. Natalie Portman e Anthony Hopkins atuam no automático, mesmo quando acabam adicionando algum lado extra aos seus personagens (a face neurótica e insegura de Jane e o lado tirano de Odin).

Quem ganha muito destaque nesse filme é Kat Dennings, que assume de vez o papel de mascote cômico do núcleo; e Tom Hiddleston, cuja personalidade já se fundiu com a do Loki, com certeza. Mas antes de falar sobre o personagem favorito de 10 em cada 9 meninas no tumblr, vamos separar algumas linhas de pensamento para Malekith (Eccleston) e os outros personagens mais excluídos do filme.

Começando pela Lady Sif (Jaimie Alexander) e os Três Guerreiros –  Volstagg (Ray Stevensson), Hogun (Tadanobu Asano) e Fandral (Zachary Levi) –  que sofreram muito por decisões criativas que vieram dos produtores da Marvel. Basicamente, o estúdio preferiu dar mais foco ao núcleo terráqueo da história (envolvendo Jane, Darcy e afins), do que no núcleo asgardiano propriamente dito. Eu não contei exatamente o tempo de tela, mas a impressão é que Sif e os outros fazem MENOS em Thor 2 do que fizeram em Thor – o que, falando enquanto fã dos quadrinhos do personagem, não faz muito sentido. Seria muito mais interessante investir justamente nesse lado da série do que forçar a presença do núcleo humano da aventura (para que a personagem de Natalie Portman entre na trama central do filme, ela precisa quase que literalmente tropeçar numa peça-chave do plano de Malekith, numa das ações de roteiro mais preguiçosas que filmes de super-heróis já viram nos últimos anos).

Já Malekith simplesmente não funciona enquanto vilão, por mais que Christopher Eccleston tenha se esforçado e abraçado a causa. Simplesmente não vai. O cara não tem um pingo de personalidade – justamente porque o roteiro modifica totalmente o conceito do cara nos quadrinhos. Nas HQs, Malekith é o típico “carne de pescoço”, um cara que não aguenta muito tempo numa briga corporal, mas que é um feiticeiro tão poderosos que é complicado de se lidar. No filme, Malekith continua um lutador medíocre (vocês não vão acreditar quem desce a porrada nele), mas o seu lado feiticeiro é totalmente extinto, resultando num cara que não tem absolutamente NADA para oferecer enquanto ameaça – e, considerando que muitas das decisões dos personagens são tomadas com base na ameaça que ele deveria oferecer, o filme acaba sofrendo com uma dissonância entre o que está sendo dito e o que o público sente.

E sim, eu tenho noção do quanto “diva dos quadrinhos que não pode ser contrariada” eu fui no último parágrafo, mas eu não sou assim normalmente – eu não teria problema nenhum com as mudanças no personagem caso elas se traduzissem em um funcionamento melhor para o filme.

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Bom, se Malekith não funciona, Thor 2 tem um vilão que trabalha à perfeição: Loki! É impressionante como o filme é melhor com o Loki em tela. Ouso até afirmar que chegamos à versão definitiva do cara nos cinemas – o Loki de Thor 2 É a encarnação do deus da trapaça. Eu juro que eu gostaria muito de dissecar cada partezinha do que ele faz, mas não vale a pena dar spoilers.

A única coisa que eu posso dizer é que toda a atmosfera em volta dele funciona muito bem e ele até tem um desenvolvimento emocional que fará do cara ainda mais adorado pelos seus fãs. E pra completar, ele ainda é responsável pelas duas melhores cenas do filme na minha opinião – uma envolvendo uma participação especial sensacional que eu também não posso mencionar.

Pra concluir então, eu digo o seguinte: Thor: O Mundo Sombrio é um filme que você vai se divertir muito se for assistir – PRINCIPALMENTE se você não for muito ligado em HQs e só curte super-heróis no cinema mesmo. Se esse for o seu perfil, você vai curtir muito Thor 2 e depois vai voltar aqui pra me xingar e dizer que eu sou frustrado em colocar problemas onde não tem e que devo gostar de uns filmes japoneses bizarros. Esse é o meu veredito final: o filme é muito divertido, boa ação, entende um pouco a sua mitologia e rende uma ótima experiência, mas falha bastante enquanto peça de algo maior e desaponta quando a gente analisa um pouco além das telonas.

PS: existem DUAS cenas pós-créditos. A primeira é importante porque liga à outros filmes da Marvel, a segunda é mais bobinha e só “conclui” a história desse filme.

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