Jogos Vorazes – Crítica

Chamado por alguns de “o novo Crepúsculo“, Jogos Vorazes estréia no Brasil nessa sexta-feira, dia 23 de março. Com uma premissa polêmica e um enorme apoio dos fãs dos livros da saga, o longa desperta curiosidade em quem nunca ouviu falar em Katniss Everdeen e não sabe nem o que são os tais Jogos Vorazes.

Afinal, o filme corresponde a esse barulho todo? Vamos descobrir.

No futuro, uma nação se ergue nas ruínas do que nós conhecemos como América do Norte. Chamado de Panem, o país é dividido em doze distritos e a Capital, cidade que controla os outros distritos. Como forma de evitar rebeliões, a Capital organiza anualmente os Jogos Vorazes, uma competição televisionada que coloca 24 adolescentes, dois de cada distrito, lutando até a morte.

Essa é a polêmica premissa da saga Jogos Vorazes, sucesso literário que verá a estréia do seu primeiro filme amanhã. A saga já é comparada à Crepúsculo por alguns, devido à sua grande base de fãs, e à Battle Royale, graças às semelhanças nas duas histórias. Mas Jogos Vorazes não vive à sombra de nenhuma dessas duas comparações, crescendo com identidade própria à medida que consegue cada vez mais espaço.

É difícil começar uma crítica sobre alguma coisa que você já era fã, pra começo de conversa. Eu conheci Jogos Vorazes nos dias após o anúncio de que Jennifer Lawrence viveria a protagonista da história nos cinemas. Na época, a atriz competia pelo papel contra nomes como Chloe Moretz (A Invenção de Hugo Cabret), Lyndsy Fonseca (Nikita) e Saoirse Ronan (Hanna). A escolha de Lawrence para o papel gerou uma quantidade incrível de críticas por parte dos fãs. “Muito velha!“, “muito loira!” e até “muito gorda!“, clamavam enfurecidos aqueles que já conheciam a história.

A disputa pelo papel e os consequentes protestos dos fãs ganharam destaque na internet e fizeram com que eu fosse atrás pra saber o que era esse tal de Jogos Vorazes. Comecei a ler o primeiro livro num sábado de manhã e não parei até chegar na última página. Depois disso, passei a semana atrás de Em Chamas, a continuação de Jogos Vorazes. Em pouco tempo eu já estava me arrastando por aí por saber que A Esperança, terceiro e último capítulo da saga, só sairia meses depois.

À medida que a estréia do longa se aproximava, eu tinha um pequeno medo que crescia dentro de mim: “E se eles transformarem tudo isso em Crepúsculo? E se distorcerem a idéia do livro no cinema?“. Se você também é fã, pode ficar tranquilo: eles não fazem nada disso. Pelo contrário, Jogos Vorazes é uma das adaptações mais fiéis que eu já vi nos cinemas. Praticamente tudo que tem no livro, está no filme, com a adição de algumas cenas e uma ou outra personagem que não aparece. E se você não confia em mim, leia a opinião de Suzanne Collins, autora da série, sobre o filme.

O longa inicia com uma explicação textual dos jogos. O que é, como acontecem e porque acontecem. Esse é um dos poucos momentos em que o filme se explica nos 142 minutos de projeção. Depois disso, passamos direto para o lado de Katniss Everdeen, a protagonista da história. Como o livro é narrado em primeira pessoa por Katniss, e esse formato é importantíssimo para o desenvolvimento da trama, a solução encontrada pelo diretor Gary Ross foi de manter a câmera ao lado da personagem praticamente o tempo todo. Seja nas cenas de ação, muitas delas praticamente em primeira pessoa, seja nos momentos mais tensos e dramáticos, a câmera está sempre ao lado de Katniss, ás vezes tremendo, ás vezes parada. Essa postura faz com que o espectador se sinta mais envolvido no longa e torna a experiência mais pessoal. Infelizmente, quando ocorre uma adaptação de mídia (livro para filme, no caso), perde-se também alguns recursos importantíssimos.

Um deles, é a própria explicação de Katniss. No livro, o relato da personagem é o que dá o tom da história. É através dele que sabemos como é a vida no Distrito 12, como são as pessoas da Capital, o que faz o veneno de uma vespa-batedora e como funciona a sua relação com Peeta (Josh Hutcherson), outro tributo da competição. Por perder essa voz, o filme acaba tendo de improvisar para garantir que o espectador não perca algumas mensagens presentes na história. Em alguns casos, basta um close em Haymitch (Woody Harrelson) assistindo duas crianças brincarem. Em outros, o filme usa o fato da competição ser televisionada e usa seus “narradores” para explicar alguma coisa, mas apenas para descrever o que a personagem vai fazer. Para o espectador, funciona como uma “explicação do plano”, por assim dizer. “Olhem, se ela fizer isso, isso e isso, vai acontecer tal coisa“, tudo isso enquanto ela faz isso, isso e isso.

Apesar desses momentos, o filme deixa subentendido grande parte da crítica social que Jogos Vorazes faz. Como o livro, o filme é mais uma “isca” para fisgar o público e fazê-los se interessar pelas sequências, essas sim extremamente críticas. A futilidade da sociedade da Capital (um retrato da nossa própria sociedade), o facismo do governo do Presidente Snow,  o pão e circo, a irrelevância de uma vida humana… está tudo lá para quem quiser prestar atenção nos diálogos e não nos acontecimentos do longa.

Falar de Jogos Vorazes e não citar o trabalho de Jennifer Lawrence como Katniss é impossível. A atriz é a força motora do filme e sua atuação é responsável por ajudar a manter a intimidade entre espectador e personagem. Em janeiro, o diretor Gary Ross disse que Jennifer devia ser indicada ao Oscar por sua performance no filme e recentemente chegou à compará-la à Meryl Streep. Eu não sei se a atriz levará algum prêmio pelo filme, mas eu não me surpreenderia, principalmente levando em conta que Jogos Vorazes é a nova moda de Hollywood. Mas seja como for, Lawrence está realmente espetacular no filme.

Ao seu lado, o jovem Josh Hutcherson, de Viagem Ao Centro da Terra e elogiado pela sua participação em Minhas Mães e Meu Pai, fica um pouco apagado. Justamente ele que precisa viver Peeta Mellark, o filho do padeiro do Distrito 12 que é extremamente talentoso com as palavras e o pincel. Mas não interpretem minhas palavras como uma negativa ao trabalho de Hutcherson. Ele não está mal, ele só não ganha destaque perto da protagonista.

No time dos coadjuvantes, ainda sobra um pouco de espaço para o sempre ótimo Woody Harrelson preparar o terreno para as futuras ações de Haymitch, mentor alcoólatra de Katniss e Peeta. Harrelson tem ao seu lado a fútil Effie, interpretada por Elizabeth Banks e responsável por ajudar a caracterizar o contraste entre Capital e Distritos. Outros dois atores que merecem uma menção honrosa são Stanley Tucci e Donald Sutherland. O primeiro rouba a cena vivendo o apresentador Caesar Flickerman. Inteligente, o Caesar de Tucci  sabe como controlar o seu público e é um dos responsáveis pelo sucesso ou fracasso dos tributos, ganhando muito mais destaque e presença do que realmente tem no livro. Já o Presidente Snow, vivido por Sutherland, é o vilão que a série pede. Gary Ross, diretor do filme, contou que Sutherland escreveu-lhe uma carta expondo sua visão do personagem quando soube que Jogos Vorazes viraria filme. As palavras do ator fizeram com que o diretor escrevesse duas novas cenas para o Presidente Snow, uma delas ao lado de suas queridas rosas. Essas cenas são, de certa maneira, uma síntese de quem é o personagem e a performance de Sutherland, exalando frieza, serve como um aperitivo do que veremos em breve nos próximos filmes.

Vale ainda ressaltar que, apesar da famosa classificação PG-13, tão necessária para um filme ter sucesso hoje em dia nos cinemas, Jogos Vorazes consegue manter a violência dos livros. Guardada às devidas proporções, claro.

O filme apela para recursos de edição para que algumas das mortes do torneio não atrapalhem a classificação indicativa do longa, ao mesmo tempo que façam juz à descrição do livro. Não posso falar mais para não dar spoilers, mas podem confiar em mim: considerando prós e contras, os fãs e os novatos na série sairão satisfeitos com o resultado dessa parte do filme.

Para terminar, e para não dizerem que eu só elogiei Jogos Vorazes, é preciso fazer ressaltar a parte do filme que realmente não vai bem: os efeitos especiais. Mais precisamente, as cenas de perspectiva com platéia embaixo. Se você souber relevar esses breves segundos de falha tecnológica, não vai encontrar mais defeitos no filme.

Seja você um fã ou não, ir aos cinemas nesse fim de semana para ver Jogos Vorazes é uma ótima pedida. Esqueça essa história de “novo Crepúsculo“. A única semelhança entre as duas histórias é a quantidade de fãs. E o fato de haver um triângulo amoroso na história, embora o tal triângulo mal apareça no filme.

Também não se sinta retraído pelas semelhanças com Battle Royale. Como eu disse, Jogos Vorazes cresce e ganha identidade própria se o espectador/leitor não forçar comparações. Dê espaço ao filme, preste atenção nos detalhes e você conhecerá uma obra fantástica, uma crítica social pesadíssima e você se verá forçado a rever algumas das suas atitudes. Se você quer uma comparação que é mais ou menos verdadeira, fique com essa: a série Jogos Vorazes é 1984 para jovens.

Donald Sutherland disse que escolheu participar do filme porque acreditava que Jogos Vorazes era um filme capaz de motivar e mobilizar uma geração de jovens dormentes em relação à política. Talvez sim, talvez não. A verdade é que o longa vai provalmente te conquistar e fazer com que você corra atrás dos livros, ou que pelo menos se interesse pelos próximos filmes. Esses sim chutam o pau da barraca.

Corra para o cinema assim que tiver a chance. E lembre-se: que a sorte esteja sempre a seu favor!

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