Parece que o exímio roteirista Aaron Sorkin resolveu fazer da série “The Newsroom” seu hobby preferido, esmiuçando nela algumas de suas maiores paixões: o telejornalismo, a política e a arte de se escrever um bom texto. O americano tem no currículo obras memoráveis como “Questão de Honra” (you can’t handle the truth!), o hilário “Jogos do Poder”, “A Rede Social” (que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 2011), “O Homem Que Mudou o Jogo”, além de uma vasta experiência em TV, principalmente com a aclamada “West Wing: Nos Bastidores do Poder”. Vemos então que é no pulsante talento de Sorkin que se encontra o espírito de “The Newsroom”.
Mas sem um grande elenco este espírito não teria forma. A frente do show está Jeff Daniels, relevante como nunca no papel de Will McAvoy, destemido e problemático âncora do telejornal News Night – um dos trunfos da emissora fictícia Atlantis Cable News (ACN). Toda a essência de McAvoy é plenamente apresentada já nos primeiros minutos do season premiere, quando o mesmo, cansado de ouvir besteiras de palestrantes posicionados a sua esquerda e direita (também uma referência ao posicionamento político dos mesmos), despeja toneladas de verdades inconvenientes sobre os EUA, sem censura, sem controle. Assim, o famoso jornalista se torna viral na internet (#WillMcAvoyMeltdown), e é a partir deste ponto que acompanhamos a restruturação de sua personalidade, que havia se perdido (e se vendido) as comodidades do estrelato.
Sendo assim, o mesmo renova seus valores morais para falar de maneira incisiva sobre tudo que acontece ao redor do globo, aproveitando também para iniciar uma inquisição ao partido Republicano, que já não trilha seu caminho primordial – para quem se liga em política americana, é simplesmente lindo ver McAvoy batendo sem piedade no Tea Party Republicano. Por sua interpretação na primeira temporada, Daniels foi merecidamente indicado ao Emmy de melhor ator em série dramática.
O restante do elenco também foi escolhido auspiciosamente, pois a química e o entrosamento são altíssimos. Os destaques são: Emily Mortimer (experiente atriz britânica), John Gallagher Jr., Alison Pill (que alguns reconhecerão como a baterista enfezada Kim Pine, de “Scott Pilgrim Contra o Mundo”), Olivia Munn (atual musa máxima dos nerds), Dev Patel (de “Quem Quer Ser um Milionário?”) e a eterna Barbarella Jane Fonda. Este incrível grupo de atores oferece então uma visão realista – mas também carregada de liberdades poéticas – de como funciona os bastidores de um grande telejornal.
E de maneira muito inteligente, a série usa este background para apresentar a cobertura de notícias reais, mas com detalhes que não chegam aos ouvidos de todos. Vemos os fatos por trás do vazamento de petróleo no Golfo do México, o violento levante da Primavera Árabe, variados problemas envolvendo a Crise Europeia e Governo Obama, e por fim, ficamos sabendo que foi o ator The Rock (que tinha amigos no exército americano naquele período) o primeiro a comunicar em seu Twitter, de maneira sútil, a morte do terrorista arqui-inimigo da América, Osama Bin Laden.
Mas paralelamente a toda essa enxurrada de informações, o roteiro de Sorkin encontram um bom espaço para explorar profundamente a personalidade excêntrica de seus personagens, tirando delas momentos dramáticos e também muito engraçados. Um dos pontos fortes de “The Newsroom” são os desencontros de amores platônicos, mas especificamente dos personagens Jim e Maggie (John Gallagher Jr. e Alison Pill), e também do próprio McAvoy com a produtora executiva do News Night, MacKenzie McHale (Emily Mortimer), com a qual teve um relacionamento no passado, que não acabou nada bem. É esta impossibilidade dos relacionamentos que nos aproxima dos personagens. Assim podemos descordar, desacreditar e principalmente torcer para que tudo se acerte de uma vez, o que obviamente não acontece assim tão fácil.
No final, “The Newsroom” é um trabalho excepcional, roteirizado de maneira extremamente inteligente, que constrói personagens críveis, relacionamentos impagáveis, que exploram conflitos humanos básicos, comuns a todos nós. Devido a massiva quantidade de informações que precisam ser passadas, o show ganha um carácter verborrágico, beirando a demasia de tempos em tempos. Mas este é um pequeno problema, que não diminui a qualidade da série, ela apenas exige um pouco mais de atenção de sua audiência.
A segunda temporada acabou de começar, por isso não perca tempo e assista “The Newsroom”.