O cinema de Duncan Jones: ficção científica com profundidade

Fazer com que um filme de ficção científica seja mais do que mero entretenimento nunca foi algo simples. Se pensarmos bem, poucos se aventuraram de forma memorável por este campo, sendo Stanley Kubrick, George Lucas e Riddley Scott os grandes artesões que moldaram para as telas tudo que vemos hoje no gênero. Só que menos simples ainda é conseguir produzir um bom filme destes com apenas cinco milhões de dólares… proeza que Duncan Jones realizou com êxito em “Lunar”, em que explora o isolamento e delírio de um astronauta (Sam Rockwell) em uma missão de três anos na Lua.

Não vou dizer que o baixíssimo orçamento seja o fator de maior destaque da fita. Mas diante do resultado final (excelente, digamos de passagem), fica difícil não unir as qualidades da direção e produção ao mérito de Jones se virar tão bem com pouca grana. Se apresentando basicamente como um thriller psicológico fortíssimo, “Lunar” consegue encontrar seu lugar dentre obras clássicas como “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e “Blade Runner” – sem exagero algum.

Nascido na Inglaterra, Duncan Jones é filho do cantor David Bowie. Mas ser o herdeiro da voz de uma geração nunca foi algo do qual o diretor se utilizou. Sua relação com pai é a melhor possível, mas desde sua juventude o mesmo não usa Bowie como sobrenome (Zowie Bowie era como sua família o chamava). Assim como os Coppolas Nicholas Cage e Jason Schwartzman, o britânico prefere seguir um caminho de maior identidade própria, não que isso evite a associação do pai com o filho. Além disso, ele nunca quis seguir a carreira musical, pois simplesmente não estava em seu sangue.

Depois de se formar em filosofia (o que lhe rendeu um ótimo background para temas pensantes), Jones afirmou – em diversas entrevistas – que enfrentou uma fase complicada, na qual não sabia ao certo quem realmente era e o que afinal faria de sua vida. Podemos perceber então que, esta experiência vívida pelo cineasta – sobre a discussão fundamental do auto-reconhecimento humano, que cedo ou tarde toda pessoa enfrenta -, se tornaria peça chave de seu cinema, e mote principal de seu primeiro longa metragem. “Lunar” foi muito bem recebido pela crítica e público mundial, além de ser indicado para diversos prêmios, dos quais venceu o BAFTA de melhor estreia como diretor, e o British Independent Film Awards de melhor filme do ano – isso citando apenas dois deles.

E diante de tamanho sucesso, Hollywood logo se interessou. Veio então “Contra o Tempo”, uma ficção contundente que aborda a história de um soldado que tenta encontrar o responsável pela explosão de um trem através da utilização de aparatos tecnológicos “mediúnicos” – para se dizer o mínimo.

Mesmo trabalhando de forma diferente dessa vez (massiva e expansiva), o resultado foi positivo. Com astros como Jake Gyllenhaal e Vera Farmiga no elenco, o lançamento foi um sucesso, agradando novamente crítica e fãs. Teoricamente, Jones não teve envolvimento nenhum com o roteiro de Ben Ripley, mas é sabido que a verve do diretor serviu para humanizar o texto, que se focava mais na parte técnica da coisa e não na repercussão dos eventos na cabeça do protagonista. E mais uma vez temos o recorrente tema que se aproxima de questões fundamentais da existência humana, usando a criatividade da história de Ripley para explorar o autoconhecimento a partir de uma nova esfera, mais abrangente, espiritual e principalmente existencial. “Contra o Tempo” foi a concretização do talento de Jones, que inseriu seu nome na lista dos mais promissores diretores desta nova geração.

Utilizando de uma técnica cinematográfica que tem inspiração nos já citados mestres Kubrick e Scott – além dos escritores George Orwell e John Wyndham -, a consistente voz de Jones funde realidade e absurdo de forma crível e poética, um resultado de sua veia européia. Junto a isso, o mesmo usa certo simbolismo pop americano para alcançar um grande diferencial: a construção conceitual de um tema definitivo, relevante, inteligente, questionador… e acima de tudo vendável (talvez isso tenha sido hereditário). Ao invés de se tornar “um filho de alguém”, o diretor reuniu toda sua experiência de vida – com a imagem do pai como centro de admiração, mas ao mesmo tempo de afastamento – para moldar um caráter próprio e distinto – na verdade, para ele, esta desvinculação parece necessária.

E fugindo completamente do padrão (algo inteligente e sempre bem-vindo), seu próximo projeto confirmado é a cinebiografia de Ian Fleming, criador do Agente 007, James Bond. Além disso, Jones tem a intenção de realizar o noir futurista “Mute”, fortemente inspirado em “Blade Runner”, e também dar vida a uma espécie de epílogo para “Lunar”, novamente com Sam Rockwell. Diante de uma curta e promissora carreira como esta, fica claro que Duncan Jones merece nossa atenção.

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