Warner tem uma política de não fazer piadas em seus filmes de super-heróis – mas qual a surpresa?

No começo dessa semana, o HitFix publicou um longo artigo falando sobre a Warner Bros. e a sua política ideológica na hora de produzir seus filmes de super-heróis: NÃO. FAÇA. PIADAS.

"Um Homem-Morcego e um Homem de Aço entram num bar..."
“Um Homem-Morcego e um Homem de Aço entram num bar…”

De acordo com a publicação, a norma de “Não fazer piadas” da Warner vale para todos os filmes de personagens da DC feitos dentro do estúdio – desde os que já estão em produção, como Batman V Superman: Dawn of Justice ou Sandman, como os que estarão em breve.

O artigo não sabe dizer o porquê dessa norma do estúdio, apenas de que é uma diretriz que os produtores estão passando para frente nos diferentes projetos em andamento dentro da Warner. Mas, a pergunta que fica é: qual a surpresa? Mais: o que tem de errado nisso?

Mas… mas… todo mundo ADORA dar risada! Por que não fazer um filme engraçado? Veja Guardiões da Galáxia por exemplo, melhor filme da História das Histórias!”, você pode argumentar. Pra responder sobre isso, a gente precisa entender duas coisas: A) A Lição Que a Marvel Ensinou e B) Como Isso Se Aplica à DC.

A Lição que a Marvel Ensinou

Desde 1998, com o primeiro longa do Blade, que os filmes baseados em super-heróis começaram a se tornar mais presentes em Hollywood. De lá pra cá, poucos foram os anos onde não tivemos pelo menos um filme com algum personagem da Marvel ou da DC no pôster.

Porém, se você parar para notar o tom de todas essas produções “antigas”, vai notar o quão “sérias” elas eram, o quanto elas tentavam ficar longe dos quadrinhos e tentar se estabelecer de pé como “produções respeitáveis” – também pudera, é importante lembrar que aqueles filmes eram pensados para um público que simplesmente não lia gibis e cuja última memória afetiva de um super-herói era o Batman galhofa de Joel Schumacher (era uma época onde conceitos como “universo compartilhado” e “narrativa transmídia” estavam longe de entrar na cabeça dos produtores).

Aqueles eram tempos dos X-Men tirar o amarelo dos seus uniformes, do Homem-Aranha parar de fazer piadinhas e do Hulk assumir sua inspiração em O Médico e o Monstro. Basicamente, eram tempos onde os super-heróis queriam ser “levados a sério” e validar o interesse de milhões de adultos em suas histórias por décadas. Algo do tipo “Viu? A gente pode ser adulto também”. Coisas típicas de um subgênero que estava engatinhando.

Via Polícia Surpresa (twitter.com/policiasurpresa)
Via Polícia Surpresa (twitter.com/policiasurpresa)

Mas como todo adolescente que se torna um adulto aprende, os responsáveis pelo gênero aprenderam que, uma vez quebrado o “preconceito” contra super-heróis com o grande público, era hora de mostrar porque esses personagens estão na ativa há tantas décadas.

E se a Trilogia do Cavaleiro das Trevas veio primeiro, a verdade é que ninguém simboliza melhor esse ensinamento do que a Marvel Studios, que deu o pontapé inicial no seu universo cinematográfico compartilhado em 2008, com Homem de Ferro.

Assim como a própria Marvel Comics marcou a mudança entre a Era de Ouros dos quadrinhos para a Era de Prata com o surgimento do Universo Marvel como conhecemos hoje (os três primeiros anos da década de 60, quando Stan Lee e Jack Kirby criaram praticamente todos os super-heróis da Casa das Ideias que você conhece hoje), a Marvel Studios marcou a mudança da Era de Ouro dos Filmes de Super-Heróis para a Era de Prata com a sua postura de, simplesmente, acreditar nos seus personagens (aqui, “ouro” e “prata” não tem a ver com qualidade, mas sim sobre quem veio primeiro). E se você não acredita em mim, acredite em Kevin Feige, presidente da Marvel Studios, quando perguntado sobre qual lição a Warner e a DC precisavam aprender com os filmes da Casa das Ideias:

[quote]O que eu venho dizendo sempre é: tenha confiança nos personagens, acredite no material original, não tenha medo de se manter fiel aos elementos dos personagens, não importa se parecem bobos ou malucos. Acho que os personagens da Marvel têm uma ligeira vantagem, por todas as razões que os fãs da Marvel já sabem, por causa das suas complexidades emocionais e suas naturezas cheias de falhas. Esses obviamente são os elementos que buscamos acentuar no meio de toda a ação[/quote]

Como Isso se Aplica à DC

Atualmente, o cenário dos filmes de super-heróis parece bem desregulado pra um lado. Enquanto a Marvel parece conseguir fazer tudo dar certo, mesmo um filme com um guaxinim falante e uma árvore com uma frase só (e até seus filmes mais “divididos”, como Homem de Ferro 3, fazem sucesso), a DC não tem conseguido ser unânime em nada que não tenha o Batman. Aliás, até o Batman teve sua dose de opiniões divididas com seu último filme.

Esse cenário dá a impressão de que o modelo Marvel é MELHOR que o modelo DC. Por norma, eu costumo não prestar atenção quando alguém diz que azul é MELHOR do que amarelo.

Parece sério, mas vai estar cheio de piadinha...
Parece sério, mas vai estar cheio de piadinha…

Se você abrir um gibi da Marvel AGORA, existem chances enormes de você pegar uma história onde, por mais raios gama, pó de pirlimpimpim ou qualquer outro elemento fantástico que a história tenha, você vai perceber que o grande lance da editora é a humanidade dentro daqueles personagens. Sim, o Homem-Aranha enfrentar um lagarto gigante é legal, mas o que é REALMENTE interessante nisso é que esse lagarto gigante é um cara muito legal que também é professor do Cabeça de Teia. Sim, o Capitão América é legal, mas a Marvel triunfa mesmo é com o Steve Rogers. Resumindo: a ideia da Casa das Ideias é que esses heróis possuem habilidades extraordinárias, mas são pessoas.

Já na DC, eles são deuses. Mesmo o herói com o conceito menos fantasioso, o “cara que se veste de morcego pra lutar contra o crime”, é icônico, lendário, um símbolo com forma corporal. Sim, você vai ver o Batman passar por conflitos humanos, mas isso é porque a indústria dos quadrinhos evoluiu sua maneira de contar história, mas o tom que transforma esses caras em equivalentes dos semi-deuses da mitologia grega permanece. É isso que eles são no Universo DC: Deuses Entre Nós.

E, se a DC e a Warner forem aplicar o que a Marvel fez para ter sucesso, é isso que eles vão levar pro cinema.

Ok, mas e as piadas?

Agora só porque esses personagens são mais ~~ó meu deus, tudo celestial~~ os filmes não podem ter piadas?” – bom, não foi o que eu disse. E não é a verdade também. Olhe para O Homem de Aço: ele cumpre totalmente a sua ideia de retratar o Superman com essa reverência celestial com que a DC trata seus personagens, mas o filme ainda é pontuado com piadas e momentos mais leves, como quando Clark quebra o caminhão do cara babaca no bar, quando aquela soldado diz que ele é gostosão ou quando o general quer ameaçá-lo e ele simplesmente quebra as algemas como se fossem papel.

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Esses filmes tem e terão momentos leves, mas não com tanta frequência e intensidade quanto os da Marvel porque esses recursos não cabem na DC. Você não vai ver o Lanteran Verde dançando uma música dos anos 70 pra distrair o Darkseid, você não vai ver o Superman pegar o metrô e provavelmente o Batman não vai contar pra Mulher-Maravilha como Footloose é uma história de heroísmo do Kevin Bacon. Não é questão de qualidade, é questão de estilo: a Marvel se dá ao luxo de não se levar a sério, a DC se dá ao luxo de se levar a sério.

Pra uns a Marvel pode ser muito palhaça, enquanto pra outros ela representa diversão na medida certa; pra uns a DC pode ser muito sisuda, pra outros são histórias inspiradoras. Questão de estilo, não qualidade.

Portanto, se você entrou em pânico porque “os filmes da DC não vão ter piadas”, relaxe a bunda e lembre que você é um ser humano complexo e que tem um espectrum de emoções e reações enormes, e que nem todo filme precisa ser igual. Nas palavras do poeta Alexandre Frota, “tem pra todo mundo”.

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