Somos tão Jovens – Crítica

Músicos de sucesso, bandas consagradas e artistas da indústria fonográfica de forma geral, alcançaram a fama e o dinheiro através de várias músicas ou álbuns de sucesso. É um fato, também, que aquela banda de garagem que consegue emplacar somente um hit, não se firma no cenário musical e acaba caindo no esquecimento. A partir disso, conseguimos traçar um paralelo com a cinebiografia de Renato Russo, que tenta contar – de forma livre – a história por trás do mito, e que acaba ‘’emplacando’’ somente um hit dentro de todas as possibilidades criadas. Obviamente, um filme não consegue se ‘’segurar’’ com apenas um ponto forte, bem como as bandas que mencionei.

Somos tão Jovens (idem, 2013) se propõe a narrar a história de Renato Manfredini Júnior, um garoto que cresceu nas entre-quadras brasilienses durante a ditadura militar, e que sonhava ser um astro do rock. Tomado pela vontade de passar alguma mensagem, os lps e fitas punk que compunham sua coleção o impulsionaram a aprender a tocar guitarra, e assim nasceram bandas como o icônico Aborto Elétrico, o famoso Legião Urbana, e, sem querer, o Capital Inicial.

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Como brasiliense e fã do cenário musical que se formou ali no início da década de 80, essa cinebiografia já havia me conquistado no momento em que, de acordo com os trailers, o rock nacional ganharia um produto à altura. Renato Russo seria eternizado nas telonas pela excelente contribuição ao rock brasileiro, e nós, admiradores de seu trabalho, ficaríamos satisfeitos. Ao contrário do que se imaginava, o diretor Antonio Carlos da Fontoura nos entregou algo parecido com o fraco ‘’Garoto de Liverpool’’, filme que narra a vida de John Lennon, antes de ser o beatle. A analogia é válida porque em ambos os filmes, a história de vida dos dois protagonistas não é nada interessante, e o que viria a seguir em suas carreiras significa muito mais aos fãs dos ícones mostrados ali. Convenhamos; alguém que não gosta de rock nacional, ou de Renato Russo, não vai se interessar por esse filme.

O roteiro escrito pelo experiente Marcos Bernstein (de Central do Brasil) não funciona, pecando mais especificamente na passagem do tempo.  A impressão que temos é a que o filme se passa ao longo de algumas semanas, já que a transição do garoto Renato (estudando no colégio), para o professor de inglês Renato, e para o universitário Renato acontecem de forma espontânea e sem demonstração alguma. Em uma cena, Renato cai de bicicleta com a camisa de um famoso colégio brasiliense. Alguns minutos à frente, Renato promete a mãe que não deixará a faculdade e procurará emprego no palácio Itamaraty.
O texto não ajuda os fracos atores contratados para viverem o círculo social de Renato. O tom de artificialidade que o filme assume chega a constranger, e a frases verborrágicas de sabedoria proferidas a cada cinco minutos por Renato só ajudam a aumentar a misticidade em volta do ícone.

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Um elenco absolutamente fraco, sem carisma ou qualquer demonstração de profundidade. Os integrantes da(s) banda(s) de Renato Russo destoam completamente do personagem principal, que também é prejudicado pelo texto mal escrito, mas que consegue se redimir pelo esforço claramente empregado. Thiago Mendonça é Renato (é mesmo, bem parecido), com os trejeitos de palco e a forma peculiar de ‘’engrossar’’ a voz nas canções.  Ainda sobre o elenco, é comum notar, durante a projeção, que as falas saem automáticas, como verdadeiros reprodutores de texto. Não há envolvimento… Os atores escolhidos para viverem Dinho Ouro Preto, Marcelo Bonfá e Petrus (citando alguns… São muitos) dão certa vergonha. Infelizmente, o filme inteiro é prejudicado por conta dessa artificialidade. Os fatos acontecem, mas parecem acontecer sem intensidade. Como ser menos interessante que isso?

O hit de sucesso de Somos tão Jovens é, no entanto, a lista de músicas compostas pelo jovem estudante do CEUB. As cenas musicais são muito bem filmadas e rendem o principal ponto do filme. A reação do público que assistia era somente uma: cantar junto. E é para isso que o filme serve…  Todos os acontecimentos são um pretexto para as cenas musicais, que não conseguem salvar o filme, mas trazem, no mínimo, um sentimento nostálgico aos mais fãs.

Foi necessário um filme de 104 minutos para que os maiores sucessos de Renato Russo fossem lembrados. É uma pena que o enxerto criado para isso não seja lá muito bom.

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