Bom dia, boa tarde e muito boa noite a você, caro leitor! Como os rumores desta última semana pedem (além do chefe), viemos falar sobre um filme estrelado pelo Ben Affleck. Um filme que vai DEMOLIR a sua mente! (Ou não, mas esta piada tinha que entrar em algum lugar. Provavelmente, numa das centenas de exibições deste filme em rede aberta, rede paga ou nos cinemas, você era o espectador deste filme. E, é claro, você teve uma opinião formada sobre ele. Aqui, vamos apenas discutir os aspectos desse filme sem nos preocuparmos com spoilers.
Portanto, [SPOILER ALERT]!
Vamos começar com a pequena sinopse do filme:
‘Após descobrir o verdadeiro trabalho de seu pai, o jovem Matt Murdock (Ben Affleck) sofre um acidente que faz com que fique cego e tenha seus sentidos ampliados, além de ganhar um apurado radar mental, que faz com que consiga perceber o que ocorre à sua volta. Já adulto, Matt estuda Direito e passa a treinar arduamente artes marciais. Com isso passa a ter uma vida dupla: durante o dia é um conceituado advogado e à noite passa a usar suas habilidades super-humanas para combater o crime, sob o codinome Demolidor.’
Inconsistências
A narrativa não segue uma linearidade definida; é uma história contada de frente para trás como se Matt Murdock estivesse contando a sua trajetória até chegar em seu momento de reflexão, ao fim do filme. É importante dizer que, até a cena em que Matt fica cego, tudo ocorreu de uma maneira ótima, tranquila e interessante. A partir daí, é clara e óbvia a decadência desta produção para qualquer espectador que já tenha completado 15 ou mais anos. E é revendo o filme que você pode entender como ele pode ter tido tantas críticas ruins e continua tendo até hoje.
Se a transição deste para ao próximo parágrafo for meio repentina, saiba que no filme é assim.
A começar pelo modo como Matt vive quando é adulto. Parece que é em cima de um telhado enclausurado no meio de vários outros prédios e em sua moradia só se pode entrar colocando um código numérico naqueles estilos de ‘armário da escola’ dos filmes americanos. Como ele consegue abrir a porta? Além disso, numa das piores cenas do filme, ele vai dormir em um tanque d’água. Num tanque d’água. OK, é claro que deve ser por causa dos seus sentidos apurados e ele precisa de calmaria para descansar, mas isso não fica explicado.
Como se não bastasse, a reviravolta que fez com que Matt se tornasse o Demolidor aparece como se fosse uma coisa muito óbvia para uma pessoa cega que tem alguns sentidos apurados. Repentinamente *PUF*, sou o Demolidor. ‘Não interessa porque eu escolhi o nome, não interessa porque eu uso essa roupa, não interessa como eu aprendi a lutar igual um discípulo do Bruce Lee, não interessa como eu consegui o faro do Wolverine. O que interessa é que eu sei fazer movimentos rápidos com um tchaco só para justificar o quão bom eu sou’– Ben Affleck parece dizer na primeira cena como Demolidor.
De um take de cena para outro, ele já aparece completamente vestido de Demolidor fazendo posições com seu tchaco sem uma explicação qualquer. Como ele conseguiu suas 22 roupas vermelhas idênticas bordadas com um ‘DD’ de Daredevil como se fossem feitas sob medida se ele é cego? Essa questão da cegueira, também, não é nada muito bem explicado. Há apenas uma narração de fundo do Ben Affleck que diz ‘perdi a visão, mas ganhei algo em troca. Agora eu conseguia ver as coisas como se fosse um radar’. Há até algumas cenas nas quais é mostrada a perspectiva do olho do Demolidor. Mas a questão é: o quão forte é esse radar? O filme dá a entender que funciona à base do som, mas não explica que tipo de som nem nada assim. Em alguns momentos do filme, fica claro que isso foi deixado completamente de lado, já que o Demolidor parece ser um Homem-Aranha sem teias e move-se livremente como se ainda enxergasse perfeitamente. Além de conseguir sentir o cheiro de uma mulher a uns 25 metros de distância que está fora do café no qual ele está, algo que relembra muito alguns aspectos de outro personagem.
No decorrer da narrativa, há vários momentos simplesmente esdrúxulos, como quando Matt Murdock (não o Demolidor) começa a brigar. Uma delas é bem no início, quando ele acaba de ganhar seus poderes e parte para cima dos ‘valentões’ de sua escola. Não haverá descrição desta aqui porque só vendo você perceberá o quão ridículo é um cego dando um chute backflip num outro cara e deixando-o inconsciente. Como Matt conseguira se adaptar rapidamente à sua condição a ponto de fazer algo assim? O outro momento é quando ele, já adulto, e Elektra se enfrentam num playground. Essa é simplesmente de gargalhar. Não há explicação alguma sobre como ele consegue lutar daquela maneira. Nem ali nem contra os seus inimigos no decorrer do filme.
O único aspecto bom do filme é a fotografia, que retrata a cidade de Nova Iorque exatamente como ela parece ser ao Demolidor (um ambiente escuro, mesquinho e deprimente). A fotografia e a trilha sonora
O desenvolvimento
Assim como os pilares que não sustentam o Demolidor, a história parece estar completamente demolida à sua volta. O cargo de inimigo central do filme se divide entre o Mercenário e o Rei do Crime, numa justaposição que não tem lógica e que termina de uma maneira muito simplória e acelerada. Colin Farrell como Mercenário não merece comentários quaisquer, já que demonstrou toda a sua ‘capacidade’ de atuação novamente. Simplesmente horrível, protagonizando as cenas mais ridículas do filme, como a do avião e a da ‘azeitona’.
O Demolidor não aparece muito como Demolidor no filme, o que é algo bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque ao menos não vemos as inconsistências e impossibilidades tornando-se possíveis e ruim porque por ser um dos personagens mais icônicos do universo dos quadrinhos da Marvel, certamente merecia algo muito melhor.
Inconsistências, furos de roteiro, faros de Wolverine à parte, não podemos pôr a culpa em alguém específico por este merecedor do Framboesa da Década. Na verdade, esse filme participou do processo de construção dos personagens no cinema no início do século, então não havia uma fórmula comercial pré-definida (como há nos dias de hoje) para se fazer sucesso. Alguma coisa tinha que dar errado. Não a nível Demolidor, mas infelizmente foi assim. Se alguma empresa pode ser apontada como a culpada por cometer a obra, é a Fox, que já dava sinais de não conseguir fazer filmes de heróis desde muito tempo atrás.
E quanto a Ben Affleck… Ele fez o que pôde no filme. Fez todas as caras de cego que conseguiu fazer e lutou todas as lutas que teve que lutar, não há como culpá-lo se o filme é ruim em todos os aspectos. Gafanhoto, não pense que por ele ter protagonizado este fracasso não é digno de ser o Batman ou algo assim. Não se baseie em apenas uma obra. Pense assim: neste, ele teve a experiência de interpretar um herói e em Argo, a experiência de protagonizar um comandante (além de escrever e dirigir). Ou seja, resta a nós esperar.
Esperar, também, pela próxima ação perante o Demolidor, já que os direitos voltaram à Marvel Studios. Quem sabe agora não veremos um filme de verdade?