O que podemos aprender com o filme Escola do Rock

Jack Black é um cara curioso. Carismático, sem dúvida, mas por outro lado também bastante caricato. Enquanto é difícil levar o cara à sério em dramas como King Kong, é ridiculamente fácil abraçar a persona que ele encarna em produções cômicas como Rebobine por Favor, Tenacious D e no já icônico Escola do Rock (2003).

Roqueiro assumido (e reforçado na maioria de seus longas), Black presta uma homenagem digna ao gênero musical que inspirou gerações desde que Elvis Presley decidiu sacudir as cadeiras nos anos 50 e até hoje sobrevive – com certa dificuldade, é verdade – e segue mexendo com o imaginário das pessoas.

O longa conta a história de um jovem roqueiro falido que resolve dar uma de professor substituto numa das melhores escolas do Estado pra tentar levantar uma grana. O problema é que o cara não tem qualquer experiência ou conhecimento que não envolva guitarras pesadas e riffs inspiradores e acaba vendo na turma de alunos do primário acostumados com a rigidez da escola, a possibilidade de criar uma super banda para participar de um concurso de Rock.

Apesar de ótima diversão com piadas inteligentes e cenas inspiradoras, o longa se destaca por outra qualidade que não costuma acompanhar os filmes de música: ele ensina muito sobre o Rock em si.

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Aqui estão algumas das lições mais bacanas extraídas do filme:

1. Ser Roqueiro não é sinônimo de estar sempre chapado

Em uma cena, o baterista da banda mirim decide ir jogar cartas com um bando de cabeludos, bêbados, mal encarados a quem ele ingenuamente chama de “Roqueiros de verdade”. Jack Black dá-lhe então um belo de um esporro dizendo:

“Eles não são roqueiros de verdade. São posers! Ser roqueiro não é ficar chapado o tempo todo e agir como um babaca. Nosso negócio é sério. Nós temos uma missão aqui: fazer um grande show. Isso é o mais importante. Um grande show de Rock pode mudar o mundo”

2. A música tem que ser tocada com coração

Quando o futuro Jimi Hendrix do grupo solta os primeiros acordes junto com a banda de forma competente, porém bastante automática e tímida, Jack Black explica-lhe que o guitarrista tem que sentir a música no coração. É preciso emoção pra tocar e não apenas reproduzir um acorde. É isso o que faz guitarristas caírem no chão, se contorcerem e agirem como loucos possuídos no palco: eles estão completamente entregues à música. Isso faz toda a diferença.

3. Dane-se se você é gordo, magro, gay ou esquisito

O palco do Rock é um dos locais mais heterogêneos do mundo. Não há espaço para preconceito quando o assunto é o bom e velho Rock and Roll feito. Ao longo da história não faltam exemplos de gordos, magros, baixos, gays, bis, andrógenos, tatuados, nerds, estranhos, bizarros e tantos outros rotulados que ganharam o mundo e provaram que sua arte era maior do que seu jeito de ser ou sua aparência. Quando a cantora gordinha da banda quer deixar o grupo por medo de bullying, Black diz à ela:

“Você tem algo que todo mundo quer: você tem talento! Lembra da Aretha Franklin? Ele é uma mulher grande, mas quando ela canta, ela abre a cabeça das pessoas. Todo mundo que festejar com a Aretha. Você tem que colocar seu coração pra fora. Eles vão te adorar, tenho certeza.”

4. Rebeldia com Causa

Ser do Rock não é ser um rebelde babaca de cara amarrada e brigar contra tudo e contra todos. Rock é atitude. É saber pensar com a própria cabeça. É curtir a vida e o momento e não aceitar regras e limites impostos pela sociedade. A base da filosofia é o questionamento. O Rock nada mais faz do que questionar (às vezes de forma agressiva, temos que admitir). Ninguém sabe o que é melhor pra você, nem mesmo a sua família ou sua religião. Ser do Rock é desenvolver esse pensamento crítico e, a partir daí, fazer as suas escolhas, mesmo que elas vão contra o que os outros acreditam. Jack Black explica isso aos alunos fazendo uma alusão ao Homem.

SCHOOL OF ROCK, Joey Gaydos Jr., Kevin Clark, Jack Black, Rebecca Brown, 2003, (c) Paramount/courtesy Everett Collection film still
SCHOOL OF ROCK, Joey Gaydos Jr., Kevin Clark, Jack Black, Rebecca Brown, 2003, (c) Paramount/courtesy Everett Collection film still

“O mundo é regido pelo Homem. O Homem na Casa Branca, o Homem do corredor. Miss Mullins [a diretora da escola] é o Homem. O Homem acabou com a Camada de Ozônio. O Homem está queimando a Amazônia. […] Havia uma época em que você podia responder ao Homem. Era com o Rock and Roll. Mas aí o Homem acabou com isso também, junto com uma coisinha chamada MTV. […] Responder ao Homem não é apenas falar. Você tem que sentir nas entranhas. Se você quer o Rock, tem que quebras as regras. Tem que ficar puto com o Homem”.

5. Não à perfeição. Sim ao coração

“Se eu fosse dar uma nota pra vocês, daria um A. Mas o Rock não é sobre fazer as coisas perfeitas. É sobre fazer as coisas com o coração”.

Essa lição pode ser encarada em qualquer esfera de nossas vidas. Quantas vezes tentamos fazer algo perfeito com o intuito único de atingir a apreciação alheia. Agora compare com as coisas que você fez por que queria fazer. Por que estava inspirado. Por que amava fazer aquilo. Por que, mesmo que o mundo fosse acabar, você continuaria fazendo aquilo, por que era algo que você fazia com a mais pura alegria e satisfação. Bem, você estava fazendo algo com o coração. Essa é a sutil diferença. O que é feito com amor, pode não ser perfeito, mas na certa tocará o coração dos outros e durará para sempre. Já o que é feito com o o intuito de obter aprovação, pode até ter um momento breve de glória, mas será logo esquecido.


Felipe Perazza é o cara por tras do blog Músicas de Andarilho e autor do livro Heróis e Anônimos.

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