Lanterna Verde, filme da Warner dirigido por Martin Campbell e com Ryan Reynolds e Blake Lively no elenco, estréia hoje no Brasil. O longa foi super-criticado lá fora e teve um péssimo desempenho nas bilheterias norte-americanas. Exagero ianque? O filme é mesmo tão ruim? É o que vamos descobrir, mas prossiga com cuidado: pode haver um ou outro spoilerzito sem importância perdido na nossa crítica.
Eu nunca fui grande fã do Lanterna Verde. Nenhum deles, eu devo adicionar. Não sei o motivo. Talvez porque quando eu era adolescente, a simbologia das histórias do herói não me agradavam. Ou talvez porque eu assistia às minhas lições de que o poder da força de vontade é o mais forte assistindo Cavaleiros do Zodíaco. Ou ainda porque eu não conseguia conceber, porque um anel que funciona baseado na força de vontade e poder de imaginação do usuário, escolheria Hal Jordan no mesmo universo habitado por Bruce Wayne. Porque, né…
Em todo o caso, eu fiquei interessado quando soube da produção do filme. Ora, por que não? Os filmes de super-heróis estão cada vez com mais qualidade e prestígio. Mas o que é preciso para um bom filme de super-herói? Uma história brilhante? Um bom protagonista? Um diretor competente? Belos efeitos especiais?
Lanterna Verde falha em muitas coisas. Eu devo ser honesto com vocês. Não chega perto de O Cavaleiro das Trevas, Batman Begins ou dos recentes Thor, X-Men: First Class e Capitão América: O Primeiro Vingador. Mas não desespereis! Também não está perto de Demolidor, Motoqueiro Fantasma e X-Men Origins: Wolverine. Se eu tivesse de escolher um filme de super-heróis para comparar, eu diria Quarteto Fantástico. Ou Superman: Returns. Você não vai sair do cinema super-empolgado. Um pouco desapontado, talvez. Mas, hey! não é um lixo.
Comecemos pela história. Lanterna Verde é o típico filme de origem de um super-herói. É uma decisão compreensível, visto que a maioria do público não conhece o personagem e a Warner quis abranger o maior público possível. O filme explica o personagem e sua mitologia de maneira quase didática. Depois de 30 minutos de explicações, introduções e conceitos, a história começa a querer andar, mas é impedida pela má direção de Martin Campbell. O homem fez o filme claramente sem interesse nenhum no que estava fazendo. É tudo óbvio, gritante e subestima a inteligência do espectador. Não bastasse o diretor jogar as idéias do roteiro na nossa cara de maneira visual, ainda insiste que os personagens expliquem em falas. Vou citar um pequeno exemplo, nem é um spoiler tão grande, então pare de chorar: Hal Jordan (o Lanterna Verde) e Hector Hammond (um dos vilões) tem uma história muito parecida. Os dois sofrem por não serem exatamente iguais aos pais e são dominados pelo medo no começo do filme. Então, partindo do mesmo ponto no começo do filme, traça-se um paralelo entre os dois até se encontrarem: enquanto Jordan dorme acompanhado de uma loira, Hammond dorme sozinho; enquanto Jordan encontra Abin Sur por vontade do anel e vira um Lanterna Verde, Hammond encontra o alienígena por vontade do governo e pega o hospedeiro de Parallax; enquanto Jordan supera seus medos com o poder da força de vontade, Hammond se entrega aos seus medos. Percebem? Mas tudo isso é explícito na sua cara. Sem sutileza, os cortes são sequênciais de um pro outro pra evidenciar o paralelo. Daí, não satisfeito, o diretor coloca os dois juntos em cena, um deitado pra um lado, outro pro outro (dãã, seguindo em direções opostas) e EXPLICA TUDO! Caramba, o Hammond literalmente pronuncia em voz alta como é incrível esse paralelo entre os dois. P#&%rra Campbell, não é porque a gente assiste à um blockbuster e lê quadrinhos que nosso QI é menor que 22.
Resumindo: a história tem uns erros grotescos, umas falhas abismais e uma cena, quase no final, que pega toda a mensagem do filme (de assumir e superar os medos e usar a força de vontade pra criar e fazer qualquer coisa), que já é uma mensagem passada de maneira super-explicadinha, e JOGA NO LIXO os 80 minutos de filme que já tinham passado. Sério, é uma contradição berrante.
“Mas Leandro, o filme é tão ruim assim??”. Nem tanto. Se por um lado a história é meio manjadinha e terrivelmente mal contada, alguns atores quase compensam. Peter Sarsgaard (Hector Hammond) e Mark Strong (Sinestro) estão bem no filme, são as melhores interpretações. Blake Lively (Carol Ferris) não está mal, mas também não é um destaque brilhante. Ryan Reynolds peca um pouco como Hal Jordan. É uma interpretação fraca, mas que perde a importância diante de outros erros do filme.
Chegamos então à parte mais comentada pela Warner na divulgação de Lanterna Verde: os efeitos especiais. Bem, eles não são ruins mesmo. Oa é um planeta bonito, embora seja muito etéreo. Você sente que nada daquilo é físico. Mas, de longe, é um dos pontos fortes do filme, apesar de Jordan quase não ficar na sede da Tropa dos Lanternas Verdes. Os efeitos usados nos outros Lanternas é incrível. Tomar-Re, Kilowog, até Sinestro e Abin Sur e os Guardiões. Caracterizações muito bem feitas. É a melhor parte do filme, pena que dura pouco. E, o mais polêmico, o uniforme do Lanterna Verde. A idéia de fazê-lo todo de CGI não é ruim. A sua execução foi. Por vezes ele é tão ridiculamente falso que parece foi feito por crianças de 13 anos editando um vídeo nos anos 80. Outras vezes ele parece bem real, com a energia pulsando e tudo mais. A máscara ficou horrível em 100% das vezes que apareceu. Poderia ter sido feito de outra forma, como um uniforme real mesmo, ou um CGI melhor.
Concluindo, Lanterna Verde tem erros e falhas vísiveis e óbvias, fruto de uma produção negligente e confusa. Porém, com um bom diretor, bons roteiristas e usando o elenco que tem para desenvolver o ótimo cliffhanger da cena pós-créditos, pode simbolizar sim a luz no farol dos filmes da DC Comics. Mas, atualmente, é apenas uma âncora.
Lanterna Verde, com Ryan Reynolds, Blake Lively, Peter Sarsgaard, Mark Strong, Angela Bassett, Tim Robbins, Temuera Morrison, Jay O. Sanders, Taika Waititi, Jon Tenney, Geoffrey Rush e Michael Clarke Duncan, direção de Martin Campbell, estréia nos cinemas dia 19 de agosto.