Resenha de Como Tatuagem, de Walter Tierno

Walter Tierno é autor nacional, publicou dois livros pela Giz Editorial (Cira e o Velho e Anardeus – No Calor da Destruição) e agora, pela Verus, publicou Como Tatuagem – seu primeiro ~~romance romântico~~.

A história de Lúcia e Artur é, para todos os fins, um romance como outros romances – não um romance qualquer, do tipo genérico, mas um romance que não se desvia do objetivo geral dos romances, que é apresentar dois personagens e construir um relacionamento entre eles.

Como Tatuagem difere dos outros no momento em que escolhe não apenas duas pessoas, mas as duas pessoas específicas que narram a história: Lúcia, fisioterapeuta que tem vitiligo, e Artur, jovem playboy que perdeu as pernas num acidente. Há quem vá comprar a idéia sabendo apenas isso, mas tem muito mais que eu gostaria de falar sobre esse livro.

Primeiro, que Lúcia tem defeitos. Se deixa levar por um relacionamento meia-boca, às vezes faz coisas meio escrotas, às vezes não entende uma coisa ou outra que é importante.

81luggluf0lSegundo, que Artur tem qualidades. Uma das maiores delas é saber seus piores defeitos. “Um cuzão”, como ele mesmo se acusa. Mas um cuzão que aprende com os erros, dele mesmo e dos outros, e que se dispõe a melhorar – não para ganhar a garota, mas a si mesmo.

Resolvi deixar isso claro porque tenho a impressão de que quem pega o livro e lê as orelhas pode pensar que Como Tatuagem é um daqueles romances em que a garota boazinha rouba o coração do playboy escroto e, por ela, ele procura redenção. Não é isso.

Como Tatuagem é um romance que tem semântica. Não vende mocinhos e mocinhas; Ao invés disso, expõe personagens bem humanos – com qualidades, falhas de caráter, construções e desconstruções. Algo que não é explicitamente tratado no livro, mas que senti bastante, é que o autor teve não apenas sensibilidade na abordagem das doenças e deficiências, mas também a empatia de não reduzir seus personagens a elas.

Artur é o cara que tem uma deficiência, não o cara deficiente.

Lúcia é a mulher que tem uma doença de pele, não uma mulher doente.

E ele consegue fazer isso sem parecer que está cagando regra (pelo menos de onde eu estou – o lugar, para todos os efeitos, privilegiado).

Esse é um livro que consegue abraçar as dificuldades e absorvê-las até que se tornem parte intrínseca da narrativa, ao invés de uma camada brilhante de drama por cima de um romance água-com-açúcar.

Assim como em suas outras obras, o autor é bem direto. Como Tatuagem é um dos livros de leitura mais rápida que peguei nos últimos meses – com dedicação e fôlego suficiente, dá pra terminar num dia só – eu li inteiro numa terça-feira. O fato de o livro não ter nenhuma cena que não seja essencial ou ao menos relevante para a narrativa ajuda muito.

Tanto Artur quanto Lúcia são ótimos narradores e tem visões muito distintas – confesso que, mesmo com todo o papo de ‘sou um cuzão’, Artur ainda foi meu favorito, porque se existe um ponto fraco no meu vocabulário garboso é minha tendência a usar palavrões (desculpa, mãe).

Então, é isso: Como Tatuagem é um romance muito bom com personagens interessantes e humanos que aprendem a lidar com os defeitos neles mesmos e nos outros, a aceitar que um relacionamento é o que é, e não o que é idealizado para ser, e que a jornada inteira importa, assim como a companhia.

Acho que meu único problema com esse livro é que, como eu acompanho o autor em algumas redes sociais, fiquei com o nome provisório do livro na cabeça, e pra mim “Como Tatuagem” ainda é “Tatuagem no Pé” quando não estou prestando atenção. Mas eu sobrevivi trocando O Enigma do Príncipe por O Príncipe Mestiço durante anos, então acho que tudo vai ficar bem.

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