Mario, Peach, Link, Zelda ou Samus. De alguma maneira, dentro de criações tão icônicas, Pokemon se mostra como uma força avassaladora no mundo da Nintendo.
Zero. Esse é o número de cópias que você provavelmente encontraria de Pokemon X/Y nas grandes capitais na semana de seu lançamento. Em um ano recheado de lançamentos avassaladores (já começaram as comparações com 1998 e 2011?), um novo jogo da franquia dos monstrinhos de bolso da Nintendo poderia parecer só mais um dos lançamentos anuais da Big N pra agradar aos seus fãs. Nós poderíamos até nos perguntar por que um novo Pokemon pro 3DS (e um novo modelo da família 3DS pra acompanhar) quando o Wii U tem sofrido com vendas baixíssimas? O mundo poderia só ter tratado como mais um lançamento e seguido em frente.
Mas não foi o caso. Eu posso te dizer sinceramente que até mais do que simplesmente não ignorar, Pokemon X/Y talvez só perca em hype pra GTA V. Traga seus argumentos pra Bioshock Infinite, The Last of Us ou Tomb Raider. Nenhum deles sumiu das prateleiras ou vendeu tantos consoles quanto Fennekin, Chespin ou Froakie fizeram. A marca de 4 milhões de cópias vendidas no dia de lançamento é absurda pra um jogo de portátil, e mais assustadora ainda quando você considera que, em uma semana, Pokemon se aproximou do volume de vendas de Monster Hunter 4 no Japão. Pode parecer pouco para alguns, mas em um país de 128 milhões de habitantes, vender 3 milhões de cópias tão rapidamente é assustador.
Seria isso um sinal de que algo especial veio da Game Freak? Pokemon, mesmo sendo um monstro de vendas, nunca pareceu pro “público geral” ser o fenômeno do final dos anos 90. Parecia que havia se estabelecido que o Ash era um derrotado inútil (e ele é), que Pokemon só era bom na época do Red/Blue/Green/Yellow ou no máximo Gold/Silver/Crystal (as deliciosas armadilhas do saudosismo) e a boa e velha “a Nintendo vai falir”. Bom, jovem aprendiz de Mestre Pokemon, o mundo não é bem assim. 50 horas depois de iniciar minha jornada por Kalos, posso lhes dizer claramente que a franquia nunca pareceu tão viva e tão saudável.
A primeira vista, Pokemon chega ao 3DS nada diferente do que era em sua 5ª Geração (Black/White 1 e 2). Há muito tempo o “temos que pegar todos” foi abandonado (será que realmente foi um objetivo após a 1ª geração?), sendo substituído por um metagame cada vez mais complexo (IV’s, EV’s, breeding… tantos termos que eu nem sei por onde começar) e que recompensa o jogador que persiste no jogo após vencer o Elite Four. Os designs continuam incríveis (não, os 151 não eram perfeitos) e a criatividade que a Game Freak precisa ter pra criar novos Pokemons que sejam visualmente atraentes e não só bons para campeonatos, com alguns dos melhores monstrinhos já criados (As 2 primeiras formas dos iniciais, Litleo, Skiddo, Meowstic, Tyrunt, Amaura, Sylveon, Noibat, Xerneas e Yvetal) e mudanças pontuais pra deixar o jogo mais acessível.
Isso só torna Pokemon X/Y uma fase ainda mais especial pra franquia, visto que a simplificação da entrada nesse lado mais complexo do jogo só tende a atrair mais jogadores pro lado competitivo do jogo. Com um cenário cada vez maior (se não se aproxima dos níveis de MOBAs e FPS competitivos, tem se aproximado da comunidade de Jogos de Luta), a Nintendo parece atenta ao marketing e público que essas competições podem trazer pro jogo e suas futuras sequências. Mas como ela tornou o jogo tão mais interessante? Bem…
O grind necessário é menor, já que o jogo alterou o sistema de funcionamento do EXP. Share, que agora dá uma parte da experiência pra todos os monstros (50% pra os que não estão na batalha e 100% pro que está), sem necessariamente “prejudicar” o participante da batalha, como acontecia em edições anteriores. Agora é possível “cavalgar” Pokemons em áreas específicas, alguns pre-requisitos foram abolidos dando espaço a um dos melhores sistema multiplayer online da Nintendo (não é mais necessário ir a um centro Pokemon pra trocar Pokemons, itens ou batalhar com seus amigos, estando tudo a alguns poucos toques da Stylus), com direito a um dos features mais sensacionais que um jogo tem atualmente: o Wonder Trade.
Quão mágica é a idéia de poder colocar um Pokemon qualquer (um breeding especial? Aquele Pokemon exclusivo da sua versão? Um Ditto? Aquele bichinho que parece com um animal de estimação seu que morreu e você o nomeou em homenagem a seu companheiro da vida real? UM SHINY? Tantas possibilidades…) e receber outro tão especial ou pior (a quantidade de Bidoofs por aí…) é extremamente animador, talvez no mais próximo que a gente vá ter de um MMO com Pokemons por enquanto e só mostra o quanto a marca da Nintendo não anda tão mal quanto querem te fazer acreditar. Não que seja completamente sem falhas, Pokemons vindos por troca ganham experiência mais rápido, então, se você manter algum deles na sua equipe, facilmente ganharão level atrás de level.
Mesmo o roteiro não sendo nada revolucionário, traz personagens cativantes a franquia, um vilão cheio de charme, um Professor fantástico (Sycamore parece feito sob medida para rivalizar com um certo avô do rival do Red) e grandes companheiros de viagem, expandindo ainda mais o quão rico o universo da franquia é e casando bem com as novidades. Se o velho Safari Zone se ausentou, a interação com seus amigos aumenta com o aparecimento dos Friend Safaris, com Pokemons mais fortes e prontos pra campeonatos do que os que costumam aparecer no jogo, isso quando não são exclusivos dessa área.
Entre todas as mudanças e novidades dessa edição, a mais polêmica e chamativa é, sim, as mega-evoluções, que são tão decisivas e importantes pro multiplayer quanto desnecessárias durante a campanha principal, por mais que enfrentar a utilizada pela campeã da Elite Four tenha suas complicações, em momento nenhum gera um desafio intransponível. A maior probabilidade é que seus Pokemons estejam tão poderosos que elas nem se façam necessárias (até porque a maior parte das pedras só são encontradas após a primeira vitória do E4). Cabe agora esperar pra ver como elas serão utilizadas em campeonatos, porque em nada influenciam a campanha principal.
Com uma geração mais focada do que o normal em qualidade de design e animação (afinal, é o primeiro Pokemon 3D pra um portátil), a Nintendo nos trouxe a versão mais bem acabada e com a maior repercussão dos últimos 10 anos (Pokemon nunca pareceu tão relevante na industria quanto agora) e trouxe mais um grande jogo a um console que, se tinha expectativas mais problemáticas do que o Wii U (viver nas sombras do DS – que é o aparelho de joguinhos mais vendido de todos os tempos – e enfrentando celulares e tablets cada vez mais poderosos), aos poucos, tem mostrado a excelência da Nintendo no mercado de portáteis.
Em um mundo que fingiu por tanto tempo não se importar com os Monstros de Bolso, o mês de Outubro, com a chegada dos novos jogos, a estréia da temporada nova do Anime focada no continente de Kalos e toda a atenção dada a Pokemon – The Origin, só mostram que, se um dia Metroid, Mario e Zelda foram os sinônimos de Nintendo, os Monstros de Bolso continuam fazendo seu papel como os heróis (não tão) esquecidos e portáteis da Big N, colocando essa nova franquia facilmente entre os melhores (se não o melhor) jogos do ano.
[nggallery id=”949″ override_thumbnail_settings=”1″ thumbnail_width=”700″ thumbnail_height=”400″ random]