Análise | Assassin’s Creed IV: Black Flag

Como um belo vento na costa do Caribe, a nova edição da série anual da Ubisoft não só reanima uma série que parecia em maus lençois, como abre grandes possibilidades com o melhor jogo da série até aqui.

Nada funcionou em Assassin’s Creed III. Na conclusão da saga de Desmond, fomos apresentados a um protagonista sem qualquer característica marcante, que parecia só um zumbi zanzando por momentos importantes da revolução americana e com sérios problemas com seu pai. A única coisa interessante que o 5° jogo da franquia trazia eram as missões de barco, e mesmo elas pareciam perdidas num mar de bugs. Então, quando a Ubisoft anunciou que o próximo passo da saga dos Assassinos não só seria mais focado nos combates navais, como daria sequência a saga dos Kenway, era difícil saber o que esperar.

Bem, mesmo com as dificuldades de desenvolver pra duas gerações diferentes, a Ubisoft volta a acertar a mão com a sua mais valiosa franquia, selando um belo ano de lançamentos de maneira tão magistral quanto Far Cry 3 fez ano passado e colocando a série em uma das posições mais confortáveis que se poderia ter nesse começo de geração.

Yo-ho-ho e uma garrafa de rum

assassins creed iv black flag analise 01Ah, Piratas… essas lendas que aparentemente cruzaram os mares do mundo pilhando, bebendo e fornicando sempre se foram um capítulo envolto em mais mistérios do que fatos para a maior parte do público geral. Surpreende então que a Ubisoft tenha conseguido entregar ao mesmo tempo uma ambientação próxima da realidade ao mesmo tempo em que não nos força a viver tudo o que de importante aconteceu no começo do Século XVIII (por mais que Edward, estranhamente, esteja em alguns momentos-chave da história real).

E, se aproveitando da vida nos mares do caribe que Edward Kenway levava, o jogo resolveu um dos maiores problemas da franquia: correr por grandes áreas nada interessantes pra chegar aos seus objetivos. Com cidades e ilhas pequenas (principalmente se compararmos com os grandes mapas de Constantinopla e Roma nos últimos jogos com Ezio) e com bem menos problemas de arquitetura do que Nova York e Boston tinham, a esmagadora maioria do tempo é gasta em alto-mar, navegando em quanto sua tripulação canta belas canções com o som dos pássaros e do oceano ao fundo, sempre com eventos interessantes ao seu redor (navios espanhóis e ingleses brigando? Acho que vou ali destruir os dois).

Bem-vindo ao Gralha. Sinta-se em casa

O Gralha (ou Jackdaw no original), navio capitaneado por Edward, é aonde você vai passar a maior parte do seu tempo e, como não poderia deixar de ser, aonde você gastará a maior parte do seu dinheiro com melhoramentos tanto estéticos quanto físicos pra ele. Com dinheiro e recursos como metal e madeira bem escassos no começo do jogo, enfrentar navios adversários é fundamental para evoluir o seu próprio, fazendo com que não só seja preciso atacá-los frequentemente, mas enfrentar navios cada vez mais poderosos se torna um desafio cada vez melhor, culminando nos absurdos navios lendários que, mesmo com seu navio completamente melhorado, ainda são um desafio insano, que ainda assim é recompensado pela precisão e qualidade do controle do seu navio.

É também através do Gralha que temos a volta das antigas missões de Brotherhood (quem jogou Brotherhood e Revelations se lembra da possibilidade de enviar seus assassinos para cumprirem missões em outras regiões em troca de dinheiro), dessa vez sob o nome de “Frota de Kenway”. A cada confronto com navios inimigos, após uma certa quantidade de dano, é possível abordá-los e então enviá-los a sua frota. Esses navios então podem ser enviados a diversas regiões do Atlântico (Canadá, EUA, oeste europeu, costa da África e América do Sul), para trocar determinadas quantidades de produtos por dinheiro.

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Um homem de vários portos…

Fortes, ilhas, capitais do Caribe e navios naufragados são alguns dos lugares que se pode visitar no jogo. Cada qual com suas missões secundárias e segredos para desvendar, com assassinatos, favores a serem feitos para Assassinos, baús escondidos, tavernas para visitar e animais para caçar. Sim, um dos pontos altos de Far Cry 3, a caça, ainda que presente no jogo anterior da série Assassin’s Creed, se tornou algo mais interessante e mais próximo do outro jogo da Ubisoft Montreal do ano passado, com certos tipos de animais em certas ilhas e poucas especimes em cada lugar. Mesmo isso foi expandido, sendo possível agora caçar diversas espécies de tubarões e baleias com arpões em alto mar.

A própria história te leva por vários lugares, passando inclusive pela mitologia dos Assassinos maias e os seus mestres ainda presentes durante o Século XVIII, bem como traçando leves paralelos com o resto da linha Kenway, principalmente com Haytham, filho de Edward e protagonista de um dos tutoriais mais chatos de que se tem notícia. Tutoriais esses, diga-se, muito menos presentes em Black Flag, com o jogo em pouquíssimo tempo lhe dando tudo na mão e permitindo explorar seu mundo como bem entender.

… grandes histórias e grandes amigos

Assassins-Creed-4-Black-Flag-silenceTendo consciência de que o mais importante na franquia é sim a sua história, Black Flag nos entrega um Edward Kenway que pouco se importa com assassinos e templários, mas que por suas próprias ambições acaba sendo empurrado pra um lado ou para o outro ao longo da história, sem jurar fidelidade a qualquer um deles. Focando no seu próprio desenvolvimento como um anti-herói em busca de um sentido e não no conflito ao seu redor, AC IV nos entrega um protagonista tão bom quanto um certo Auditore foi.

Talvez o ponto mais estranho para quem começou a franquia pelo segundo jogo é o quão pouco se tem de desenvolvimento nos trechos do jogo que se passam no futuro, sendo os mesmos usados mais pra explicar o contexto da existência do jogo no lore da série e distribuir pequenos easter eggs (seja de Watch_Dogs ou do futuro da franquia), ao mesmo tempo em que brinca com a realidade, mostrando a Abstergo Entertainment é mostrada quase como uma Ubisoft maligna… ou será que é só brincadeira mesmo?

Com esse pouco foco no futuro, Black Flag se mostra um jogo sobre a história de um homem pobre saído do Reino Unido em busca da promessa de riqueza e liberdade que a pirataria significava e, por meio de alegrias e duros golpes, descubrindo as verdades e mentiras do que lhe fora prometido, ao mesmo tempo em que evolui a cada novo capítulo de sua história. Evolução essa, aliás, que nao se dá apenas pelo próprio Edward, afinal, a Ubisoft se aproveitou para nos dar o melhor set de coadjuvantes que a franquia já teve, com belos retratos de Charles Vane, Benjamin Hornigold, Jack Rackham, Anne Bony, James Kidd e um glorioso Edward ‘Barba Negra’ Thatch, compensando e muito o grande grupo de personagens desinteressantes do jogo anterior e pavimentando o caminho para o melhor jogo da franquia até aqui.

Mais uma garrafa de rum?

Mesmo com alguns defeitos, em sua maioria inerentes a série, como a dificuldade de movimentação no chão (alguns pulos ainda são terríveis de acertar) e a falta de fluidez nos combates, e que dificilmente serão resolvidos até a série se mudar definitivamente para o Playstation 4 e o Xbox One, Assassin’s Creed IV: Black Flag é a volta a um caminho sólido pra franquia, estabelecendo uma bela estrutura sobre a qual construir, ao mesmo tempo em que entrega um jogo fantástico e que, mesmo entre a enorme quantidade de lançamentos de 2013, consegue se destacar.

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