Crítica Malévola
Malévola salva a fórmula de refazer contos, é o ápice da ideia que já estava cansando.
Roberta Rampini
sexta-feira, 30 de Maio de 2014
A Bela Adormecida nunca foi lá a princesa mais empolgante da Disney. Quem ia gostar de alguém que tem como ápice de sua vida dormir eternamente? Se o assistiu quando era criança faça uma experiência e tente se lembrar de alguma cena do filme que não seja o beijo que a acorda. Nove entre dez leitores pensaram na Malévola lançando a maldição.
O que nos leva ao ponto central desse paragrafo, se em Branca de Neve e o Caçador a Madrasta Má é quem rouba a cena mesmo sem ser a protagonista, um filme que coloca Angelina Jolie em tal posição merecia sim o nome da real personagem de toda essa história.
A primeira vista Malévola parece mais um filme que irá distorcer um conto de fadas para torná-lo mais atual e visceral, tática que já estávamos vendo em A Garota da Capa Vermelha, João e Maria Caçadores de Bruxa, Jack O Caçador de Gigantes, e alguns outros. Porém, o filme se mostra mais esperto. Sendo obra da própria Disney a proposta é outra, nesse filme encontramos na verdade uma evolução do clássico de 59.
Malévola não é um filme adulto ou adolescente, é um live action de um conto de fadas feito para uma geração de crianças que infelizmente já se cansou de animações. O principal ponto está na arte do filme, que abusa tanto – e tão bem – dos efeitos especiais que te leva, sem esforço, a um reino realmente mágico. É difícil acreditar que a terra dos Mors, um floresta mágica, não existe mesmo mostrando seres desconhecidos até mesmo para a cultura pop.
Esse é o trunfo de se ter um artista como Robert Stromberg comandando a direção. Ninguém menos que o Diretor de Arte de filmes como Oz, Mágico e Poderoso, Alice no País das Maravilhas (2010) e Avatar, os dois últimos lhe rendendo óscares pela direção artística.
É impossível não chamar atenção para o que foi criado em tela. Além de belo é crível, por muitas vezes o espectador não perceberá o que na verdade foi feito em computação. Mesmo em cenas absurdas como a transformação de um corvo em homem você pode se flagrar pensando se aquilo realmente não era de verdade. A imagem é montada para retratar a magia que aquele lugar, naquela história, requer.
O ponto alto está não no uso de cores – pois todas elas fazem questão de estar lá – mas sim no contraste criado por sombra e luz. É na maneira que os contornos escuros e as cores pasteis ou vivas se entrepõem que a mágica acontece. Algo tão bem feito que talvez explique a censura de 10 anos do filme, uma vez que o mesmo não é lá tão assustador ou com cenas pertubadoras, apenas denso em imagem.
A história em si é muito apropriada para qualquer criança, não existem explicações com muitos detalhes que precisam ser pensados e mesmo coisas que não precisavam ser explicadas, como um feitiço que irá acontecer na sua frente se torna didático quando é explicado em voz alta com um sonoro “vire um homem”.
Ainda sim o novo filme deixa certos pontos soltos para quem for mais atento – ou mais velho. Porém, mesmo esses pontos, são capazes de se resolverem quando percebemos que o filme não é um reboot como vem sendo proposto para filme do tipo, ele é um remake. A Disney é esperta em não ignorar a animação e revelar que essa é apenas uma versão contada por um novo narrador. O filme antigo é quem responde o filme novo, mesmo que não haja a real necessidade para isso, é apenas um toque.
Sobre Angelina Jolie e o nova face da história não há muito de novo a ser dito, o sucesso dessas duas escolhas é um fato. Jolie é diva na essência maior da palavra e ninguém poderia encarnar melhor uma fada (e não bruxa) com tantas camadas de personalidade como a Malévola de 2014, que pode ser má ou boa, frágil ou guerreira, fada ou bruxa.
Malévola não quer ser melhor filme do seu ano, ou o melhor filme de sua vida, Malévola quer ser bom no que ele te oferece, sem grandes sonhos de dominação mundial o filme é perfeito dentro do próprio universo. É o ápice de uma ideia que já estava cansando.
Malévola salva a fórmula de refazer contos, é o ápice de uma ideia que já estava cansando.